| Resumo |
O controle de patógenos na indústria da carne bovina é um desafio que impacta sobre os custos produtivos e na inocuidade dos alimentos, sendo necessário desenvolver abordagens inovadoras para garantir a segurança alimentar. Nesse sentido, as bactérias ácido-láticas (BAL) capazes de produzir substâncias antimicrobianas, como as bacteriocinas, destacam-se como candidatas às ferramentas de biocontrole, tornando-se alternativas ao uso de produtos químicos nos processos de sanitização e do uso de antimicrobianos na produção animal. Neste trabalho, objetivamos caracterizar o potencial inibitório de isolados de BAL obtidos da microbiota residente da carne bovina moída disponível no varejo. Amostras de carne (n = 40) foram obtidas de supermercados em Viçosa, MG (n = 25) e em Palotina, PR (n = 15), Brasil e submetidas à diluição décupla com NaCl 0,85% (p/v) seguida de semeadura em Ágar de Man, Rogosa e Sharpe (MRS) e incubação a 37 °C por 48h. Realizou-se a enumeração das colônias e a seleção das placas com contagem até 100 UFC. Os resultados das contagens foram expressos em log UFC/g. As placas selecionadas foram sobrepostas com Ágar Tryptic Soy (TSA) inoculado com Listeria monocytogenes ATCC 7644 a 7 log UFC/mL e incubadas a 37° C por 24h. Das placas, foram selecionadas as colônias que apresentaram halos de inibição, as quais foram posteriormente estriadas em ágar MRS para purificação. As colônias purificadas foram cultivadas em caldo MRS e incubadas a 37° C. Alíquotas dos inóculos foram centrifugadas a 12.000 xg por 7 minutos para obtenção do sobrenadante isento de células. Poços foram preenchidos com o sobrenadante em placas de TSA previamente inoculadas com L. monocytogenes ATCC 7644 (7 log UFC/mL) e proteinase K (20 mg/mL) foi adicionada nas regiões adjacentes aos poços. Após a absorção completa dos extratos, as placas foram incubadas a 37° C por 24 horas; a formação de halos em meia-lua indicou atividade proteica, sugerindo potencial bacteriocinogênico das BAL analisadas. As contagens de BAL variaram de 4,52 a 9,34 log UFC/g, com uma média geral de 5,96 ± 1,03 log UFC/g. Das 40 amostras analisadas, 23 apresentaram colônias de BAL com formação de halos de inibição, sendo 16 de Viçosa e 7 de Palotina. Um total de 77 isolados de BAL com potencial bacteriocinogênico foram recuperados, sendo 10 de amostras de Palotina e 67 de Viçosa: todos os isolados mostraram potencial inibitório, evidenciado por halo de inibição. No entanto, apenas 5 isolados desenvolveram um halo de inibição em forma de meia-lua após o tratamento com proteinase K, sugerindo atividade bacteriocinogênica. Os isolados positivos pertenciam às amostras coletadas em Viçosa. A microbiota BAL da carne moída foi quantificada e caracterizada como matriz favorável à multiplicação de cepas bacteriocinogênicas, que poderiam ser consideradas em estudos futuros para explorar seu potencial biocontrole contra microrganismos patogênicos em diversas áreas da indústria de alimentos de origem animal. |