| Resumo |
A avaliação da dor em coelhos é desafiadora devido às manifestações clínicas sutis e de difícil detecção. Essa limitação é especialmente crítica em procedimentos cirúrgicos complexos, como a ureteroureterostomia microcirúrgica (UU), nos quais a dor não controlada compromete a recuperação e o bem-estar dos animais. Nesse contexto, escalas baseadas na expressão facial têm se destacado como ferramentas não invasivas para identificar e quantificar a dor a partir de parâmetros visuais. No entanto, seu uso no pós-operatório em coelhos ainda é pouco explorado, especialmente quanto à influência do sexo na expressão da dor. Considerando que coelhos são amplamente utilizados como modelos experimentais e vêm ganhando espaço na clínica de animais não convencionais, compreender melhor a manifestação da dor nessa espécie é essencial e pode contribuir para o aprimoramento da analgesia para aplicação experimental e clínica. Com este estudo, subprojeto de um ensaio controlado randomizado (CEUA-UFV, nº 28/2024), buscou-se verificar a existência de diferenças entre machos e fêmeas na manifestação de dor pós-operatória de coelhos submetidos à UU unilateral. Foram avaliados 10 coelhos adultos da raça Nova Zelândia participantes do referido estudo, pareados por sexo e mantidos sob as mesmas condições. Os animais foram submetidos à UU sob anestesia geral com indução por propofol, manutenção com isoflurano e infusão contínua de lidocaína (100 μg/kg/min) e remifentanil (0,4 μg/kg/min) para analgesia transoperatória. No pós-operatório, administraram-se tramadol (5 mg/kg, q12h por 3 dias), meloxicam (0,3 mg/kg, q24h por 3 dias) e dipirona (25 mg/kg, q12h por 5 dias). A dor foi avaliada diariamente, do 1º ao 5º dia pós-operatório (D1 a D5), por um único examinador, no ambiente de aclimatação dos animais, utilizando a Escala Grimace para Coelhos (EG), que atribui escores de 0 a 2 a cinco parâmetros faciais: órbitas, bochechas, narinas, bigodes e orelhas. Foram utilizados os testes de Friedman, Nemenyi (post hoc) e Mann-Whitney, com p < 0,05. Os resultados indicaram diferença significativa nos escores de dor entre os dias (p < 0,001), maiores no D1 em relação ao D3 (p = 0,003) e D5 (p = 0,002), mostrando redução. No D1, não houve diferença significativa entre sexos; 80% dos animais apresentaram alterações nas órbitas, observadas em 100% das fêmeas e 60% dos machos, que também apresentaram alterações nas orelhas (60%). No D2, as fêmeas tiveram escores significativamente maiores que os machos (p = 0,04), com alteração nas orelhas em 60% das fêmeas (3/5) e ausentes nos machos. De D3 a D5, não houve diferença significativa entre sexos, sendo as alterações nas orelhas mais frequentes no D4, presentes em 80% das fêmeas e 40% dos machos. Conclui-se que o sexo influenciou a manifestação da dor no D2, indicando que deve ser considerado na avaliação pela EG em coelhos. |