| Resumo |
As infecções do trato urinário inferior (ITUi), como a uretrite, são incomuns nos equídeos, principalmente nos machos, por apresentarem uma uretra maior quando comparados às fêmeas. O surgimento de uma ITUi demanda a colonização uretral por microrganismos patogênicos e sua adesão às células uroepiteliais por meio de adesinas fimbriais, características presentes em algumas bactérias enteropatogênicas. Trata-se de uma enfermidade que acomete o canal muscular que comunica a bexiga ao exterior do corpo, responsável pela condução e eliminação da urina. Foi atendido, no Hospital Veterinário da UFV, um asinino macho, da raça Pêga, de 25 anos de idade, com atividade reprodutiva ativa, sob queixa de apatia, hiporexia, disúria, parafimose e fezes pastosas, além de polaciúria há cerca de 4 meses. O exame físico incipiente do paciente, logo admitido em terapia intensiva, foi congruente com as queixas da proprietária. A análise do leucograma foi detectado desvio à esquerda regenerativo (bastonetes: 1.760 céls/dL de sangue, discreta neutropenia: 3.749 céls/dL de sangue e basofilia citoplasmática). A urinálise proveniente de micção espontânea revelou baixa densidade urinária, presença de piócitos, hemácias e células epiteliais escamosas (3/C), além de bactérias cocos (+++). O paciente, submetido à cistoscopia, apresentava hipereremia da mucosa uretral, focos hemorrágicos e placas exsudativas. Em nova amostra urinária (colhida por sondagem vesical e submetida à cultura microbiológica em meios seletivos) mostrou o crescimento bacteriano de Escherichia coli e Acinetobacter (sendo este um agente não usual em infecções do trato urinário equino). O antibiograma realizado por teste de sensibilidade por disco-difusão (Kirby-Bauer) revelou sensibilidade apenas aos antibacterianos Amicacina e Meropeném. A escolha primária de tratamento foi o aminoglicosídeo (20 mg/kg, IV, SID, durante 8 dias), sendo irresponsivo à terapêutica instituída. Em seguida, iniciou-se o tratamento com o uso do carbapenêmico (10 mg/kg, IV, TID, durante 11 dias) com evolução gradativa do estado mental, apetite e características laboratoriais satisfatórias. Em adição, durante avaliação ultrassonográfica transretal, foi visualizada a hiperplasia da glândula prostática, com padrão de ecogenicidade mista, sendo sugestivo de prostatite. Após o período de 25 dias de internação e cuidado intenso, o paciente obteve alta do hospital veterinário sem apresentar recidivas do quadro infeccioso. Em súmula, as infecções bacterianas das glândulas acessórias estão fortemente associadas ao quadro de disúria em machos, além de serem fatores predisponentes para as ITUi’s. Ademais, E. coli enteropatogênicas apresentam alta prevalência nos processos infecciosos do trato genitourinário de equídeos, revelando alto grau de resistência aos antibacterianos disponíveis na terapêutica veterinária. |