| Resumo |
Introdução: A febre maculosa brasileira (FMB), causada por Rickettsia rickettsii e transmitida principalmente por Amblyomma sculptum, mantém‑se como grave problema de saúde pública em Minas Gerais (MG). Santa Cruz do Escalvado (SCE), inserida no ecótono Mata Atlântica–Cerrado, reúne condições que potencializam esse risco: (i) alta densidade do vetor em áreas degradadas do bioma; (ii) grande disponibilidade de hospedeiros amplificadores; e (iii) alterações ambientais de grande escala, como alagamento de margens ripárias pela Usina Hidrelétrica Risoleta Neves e retenção de rejeitos do rompimento da barragem de Fundão (2015), que ampliam a interface entre vetores, fauna silvestre e população humana. Esses fatores, somados aos dois óbitos em 2018 por FMB em SCE, indicam possível mudança no ciclo de transmissão local e justificam uma abordagem integrada para detectar Rickettsia em carrapatos, subsidiando estratégias de vigilância e prevenção da FMB no município. Objetivo: Realizar um levantamento ecoepidemiológico da presença de Rickettsia spp. em carrapatos coletados em SCE, com o fito de avaliar possíveis repercussões ambientais na cadeia de transmissão da FMB. Metodologia: Entre setembro e outubro de 2024, foram realizadas coletas sistemáticas de carrapatos no município de SCE. Os ectoparasitas foram triturados individualmente com auxílio de lâmina de bisturi e macerados. Prosseguiu-se com a extração do material genético utilizando o kit comercial PureLink Mini Kit (Invitrogen), conforme protocolo do fabricante. A qualidade da extração foi verificada por uma reação em cadeia de polimerase convencional (PCR) com primers direcionados ao gene 16S rRNA, com posterior visualização dos produtos por eletroforese em gel de agarose a 1%, contendo controle positivo e negativo. Em seguida, as amostras viáveis foram submetidas à PCR em tempo real (qPCR) com o conjunto de primers CS5 e CS6, específicos para parasitos do grupo da febre maculosa. Amostras positivas seriam então submetidas a nova rodada de qPCR com primers para os genes gltA e ompA, a fim de discriminar a espécie de Rickettsia. Resultados: A PCR confirmou a integridade do DNA extraído, assegurando a viabilidade das amostras para análises subsequentes. No entanto, o qPCR não detectou a presença de Rickettsia spp. nas amostras do período analisado, não sendo necessária a aplicação de técnicas complementares para diferenciação de espécies. Cabe ressaltar, no entanto, que mais de mil carrapatos coletados entre janeiro e outubro de 2024 na mesma área ainda serão analisados. Conclusão: Apesar da FMB ser reconhecidamente endêmica em MG, a ausência de Rickettsia spp. nas amostras analisadas pode refletir uma baixa circulação atual do agente ou limitações amostrais relacionadas à sazonalidade, estágio evolutivo dos vetores ou densidade de hospedeiros. Esses dados reforçam a importância do monitoramento contínuo e da vigilância integrada a fim de subsidiar ações preventivas e políticas públicas em saúde. |