| Resumo |
Este estudo analisa a construção idiomática semipreenchida “é cada X que”, em que “X” corresponde a um Sintagma Nominal (SN) seguido por uma oração relativa, sob a ótica da Linguística Cognitiva, dentro do quadro teórico da Gramática de Construções. A investigação fundamenta-se em dados autênticos extraídos de interações em redes sociais e plataformas digitais que refletem o uso espontâneo da língua. Um exemplo típico é o enunciado “É cada pergunta que me fazem…” (youtube.com), no qual se identifica uma avaliação implícita de surpresa ou desaprovação. O objetivo central é examinar os contextos de uso dessa construção e os efeitos avaliativos que ela desencadeia, observando se o valor atribuído ao enunciado tende à positividade, negatividade ou ambiguidade. Como objetivo específico, propõe-se mapear os Sintagmas Nominais que ocorrem na construção, bem como as orações relativas introduzidas pelo pronome “que”, com vistas à descrição de padrões estruturais e semânticos nas ocorrências coletadas. Parte-se da hipótese de que tal construção atua como recurso discursivo de intensificação e categorização da experiência. O estudo dialoga com autores como Goldberg (1995), Ferrari (2011) e Pinheiro (2016), no contexto da Gramática de Construções, abordagem que concebe a gramática como um repertório de formas linguísticas associadas a significados, abrangendo desde itens lexicais até esquemas mais abstratos, como a estrutura “é cada X que”. A Teoria da Avaliatividade, de Martin e White (2005), também é mobilizada como aporte complementar para a análise dos efeitos interpessoais produzidos pela construção, sobretudo no que se refere a avaliações atitudinais, como julgamento, afeto e apreciação. A pesquisa contribui para a descrição de construções avaliativas no português e para a compreensão das relações entre forma, significado e uso em contextos reais de interação. A metodologia adotada consistiu na coleta e análise de ocorrências autênticas da construção em corpora digitais, utilizando a expressão “é cada” como termo de busca no Google. Foram retornadas 270 ocorrências oriundas de diferentes redes sociais, como Facebook e Instagram. Para a seleção, consideraram-se apenas os casos que apresentavam a estrutura completa “é cada SN que...”, acompanhada de oração subordinada adjetiva que complementa ou especifica o SN anterior, reforçando o efeito avaliativo da construção. Como resultado, 26 ocorrências foram selecionadas. A análise ainda está em andamento, mas os dados preliminares já indicam que a construção se comporta como uma forma convencionalizada de avaliação, marcada por ironia, surpresa ou desaprovação. |