| Resumo |
Introdução: A indústria alimentícia descarta grandes volumes de resíduos, como as sementes de abóbora, que são fontes de nutrientes e compostos bioativos com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. No entanto, o uso dessas sementes é limitado por fatores antinutricionais e baixa digestibilidade. Técnicas de bioprocessamento, como a germinação, podem melhorar o perfil nutricional e bioativo das sementes, aumentar a biodisponibilidade de nutrientes e reduzir compostos antinutricionais. Apesar disso, a germinação exige uma etapa de hidratação prolongada, com riscos de contaminação e perdas operacionais. Nesse contexto, tecnologias emergentes, como o ultrassom (US), vêm sendo exploradas para acelerar a hidratação e otimizar a germinação, com possíveis impactos positivos na qualidade da farinha obtida. Objetivos: Desta forma, este estudo avaliou os efeitos da hidratação assistida por US e da germinação sobre a atividade antioxidante e o teor de ácido γ-aminobutírico (GABA) de farinhas de sementes de abóbora germinadas. Metodologia: Para isso, as sementes (~40 g) foram sanitizadas e hidratadas com ou sem US (25 kHz, 38W/L, 2 ciclos de 10 min/hora) a 25 °C ou 45 °C até atingirem 45% de umidade, sendo então germinadas por 72 h a 25 °C e 80–85% de umidade relativa. Após secagem (50 °C, 12 h) e remoção das radículas, as sementes foram moídas. Foram obtidas cinco amostras: in natura e germinadas com ou sem US, nas duas temperaturas. A atividade antioxidante foi determinada pelos métodos DPPH e ABTS, com resultados expressos em µmol de Trolox/100 g em base seca (BS). O teor de GABA foi quantificado por HPLC (coluna C18, detecção a 254 nm), com tempo de retenção de 6,7 min, e os resultados expressos em mg/100 g em BS. Resultados: A amostra in natura apresentou atividade antioxidante de 45,0 (ABTS) e 32,9 (DPPH) µmol de Trolox/100 g em BS. A germinação aumentou a atividade antioxidante (p<0,05): sem US, os incrementos para ABTS foram de 110% (25 °C) e 112% (45 °C), e para DPPH, de 24% e 41%, respectivamente. A aplicação de US potencializou esses efeitos, elevando em até 172% (25 °C) e 132% (45 °C) para ABTS, e em 74% e 44% para DPPH, comparado à amostra in natura. O teor de GABA também aumentou com a germinação (5,6 mg/100 g na amostra in natura), com incrementos de 163% (25 °C) e 239% (45 °C) sem US. A hidratação assistida por US intensificou a biossíntese de GABA, com aumentos de 254% (25 °C) e 285% (45 °C) em relação à amostra in natura. Observou-se que a temperatura mais elevada (45 °C) favoreceu a formação de GABA, enquanto a de 25 °C foi mais eficaz para preservar ou estimular compostos antioxidantes, especialmente com a aplicação de US. Conclusão: Conclui-se que a combinação entre germinação, sonicação e controle da temperatura de hidratação representa uma estratégia promissora para a produção de farinhas germinadas com propriedades bioativas aprimoradas a partir de sementes de abóbora, agregando valor a um resíduo agroindustrial subutilizado. |