| Resumo |
A análise apresentada faz parte da oficina “Desmistificando a ciência!”, desenvolvida com duas turmas do 3º ano do Ensino Fundamental I, composta por crianças com idade entre 8 e 10 anos, na Escola Estadual Effie Rolfs. A atividade foi realizada no âmbito do Projeto de Extensão Universidade das Crianças da Universidade Federal de Viçosa (UC-UFV) - uma das linhas de pesquisa do Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas e Formação de Profissionais da Educação (GEPPFOR). O principal objetivo da oficina foi investigar as concepções das crianças sobre o cientista e a ciência enquanto campo do conhecimento, buscando compreender o imaginário infantil em torno dessas representações. Sob essa perspectiva, foram propostas atividades direcionadas à desconstrução de estereótipos, promovendo uma visão mais acessível, diversificada e realista acerca da figura do cientista e de sua atuação profissional. Dessa forma, foram realizadas oficinas separadas com as turmas 1 e 2, cujas atividades iniciaram com a produção de desenhos, nos quais as crianças deveriam representar quem eram os cientistas e o que faziam. O objetivo foi permitir que, de forma livre e espontânea, os alunos expressassem suas concepções prévias sobre a figura do cientista. Em seguida, realizou-se uma roda de conversa para que as crianças compartilhassem suas representações e os significados atribuídos a elas. A partir desse diálogo e considerando a visão estereotipada inicialmente observada, foi apresentado um panorama mais amplo e diverso sobre os diferentes espaços em que o fazer científico acontece. Por fim, as crianças produziram um novo desenho como estratégia avaliativa, a fim de verificar se as discussões da roda de conversa haviam impactado suas percepções. Em geral, ambas as turmas obtiveram bons resultados elaborando representações distintas, em relação ao desenho inicial. Sob essa perspectiva, tornou-se necessária a análise dos desenhos à luz da questão de gênero, tendo em vista que a maioria das primeiras representações retratavam homens. Contudo, observou-se uma diferença entre as turmas: na turma 1, apenas figuras masculinas foram desenhadas inicialmente, enquanto na turma 2, algumas meninas representaram mulheres cientistas. Nesse contexto, destaca-se a relevância de refletir sobre a influência do sistema patriarcal na ciência, o qual constrói historicamente, a partir de construções sociais e culturais machistas, posiciona a mulher em situação de inferioridade intelectual. Ressalta-se que a turma 2, no ano de 2024, participou de um trabalho sobre profissões com enfoque na questão de gênero, o que pode ter contribuído para a ampliação da consciência sobre a presença feminina nos espaços intelectuais de prestígio e poder. Assim, o presente estudo evidencia a importância de ações educativas voltadas à superação de tais paradigmas desde a infância, com o propósito de romper com a manutenção das estruturas patriarcais presentes na sociedade desde os primeiros anos escolares. |