| Resumo |
As malformações congênitas em ruminantes, como fenda palatina e deformidades ortopédicas, são alterações anatômicas que se desenvolvem durante a gestação e podem comprometer a viabilidade do neonato. A fenda palatina é caracterizada por uma comunicação anormal entre cavidades oral e nasal, resultando em dificuldade de sucção, aspiração de alimentos e predisposição a pneumonia aspirativa. Já as deformidades dos membros, como desvios angulares, podem ser causadas por distúrbios genéticos, nutricionais, infecciosos ou por posicionamento fetal inadequado. Quando associadas, essas alterações elevam o risco de infecções secundárias e prejuízos ao bem-estar animal, exigindo diagnóstico clínico criterioso e decisões éticas quanto ao prognóstico. Durante uma atividade prática da disciplina de Clínica Médica de Ruminantes e Equídeos da Universidade Federal de Viçosa, foi realizada uma visita à Fazenda Vale do Piranga, em Ponte Nova - MG, com o objetivo de integrar conhecimentos teóricos e práticos em atendimento clínico a campo. O presente caso refere-se a uma bezerra de aproximadamente duas semanas de vida, que apresentava sinais clínicos severos: temperatura retal de 39,6°C (febre), taquicardia (200 batimentos por minuto), ausculta pulmonar com presença de conteúdo e dificuldade respiratória. Observou-se deformidade em ambos os membros torácicos, com desvio angular do metacarpo e carpo, impedindo-a de se manter em estação. No exame oronasal, identificou-se fenda palatina, possivelmente associada à pneumonia aspirativa, com secreção mucopurulenta bilateral nas narinas. A pele apresentava crostas e lesões ulceradas, predominantemente na região dorsal e nas orelhas, além de miíase na vulva e no umbigo. Escaras de decúbito também foram observadas. A conduta terapêutica incluiu limpeza das feridas e miíases com unguento, pomada cicatrizante e iodo no umbigo. Para tratamento sistêmico, foram administrados Penicilina (betalactâmico), Estreptomicina (aminoglicosídeo) e Piroxicam (anti-inflamatório não esteroidal), todos por via intramuscular. Também foi realizada coleta de sangue para avaliação de GGT e bilirrubina. Após conclusão do exame clínico e realização dos manejos necessários, discutiu-se o prognóstico e a possibilidade de eutanásia. Sendo assim, o proprietário optou por sua realização, a qual seria conduzida respeitando os princípios éticos e sanitários, com foco no bem-estar animal. Contudo, o caso proporcionou uma experiência de aprendizado enriquecedora, desenvolvendo habilidades clínicas e empatia frente à realidade do campo. A decisão final pela eutanásia, fundamentada no bem-estar animal, reforça a importância de um manejo ético, técnico e sensível. Casos como este destacam o valor do ensino prático e da extensão universitária na formação do médico veterinário. |