| Resumo |
As doenças gastrointestinais podem ser orgânicas ou funcionais, caracterizadas por sintomas ligados à hipersensibilidade visceral, motilidade alterada e disfunções no eixo intestino-cérebro. A qualidade da dieta pode influenciar/aliviar os sintomas em pacientes que relacionam alimentos ao agravamento da doença, entretanto, restrições inadvertidas, sem devida orientação profissional, podem comprometer o estado nutricional. Pacientes podem desenvolver Transtornos Alimentares, como o Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo(TARE) como forma de evitar ou prevenir sintomas. O TARE é caracterizado por restrição/evitação na ingestão ou variedade de alimentos, e é motivado pela aversão às características sensoriais e medo de consequências aversivas, incluindo aumento nos sintomas gastrointestinais. Diante do exposto observa-se a importância de avaliar o risco de TARE na população atendida em ambulatório nutricional para doenças gastrointestinais e os fatores associados. Objetivou-se estimar a frequência do risco de TARE e fatores associados em pacientes assistidos em ambulatório de atendimento nutricional para doenças gastrointestinais. Trata-se de estudo transversal observacional, realizado entre 09/2024 a 07/2025. A investigação foi feita com base nas informações coletadas na primeira consulta. O risco de TARE foi avaliado usando o escore Nine Item Avoidant/Restrictive Food Intake Disorder screen(NIAS). Foram coletados em formulário próprio: dados gerais, sintomas, alimentos que geram desconfortos. A ingestão diária de macro e micronutrientes foi coletada no R24h, analisado no Webdiet, com a EAR(DRIs) como referência de adequação. A análise estatística foi feita usando o GraphPad Prism. Os dados foram expressos em mediana(IIQ). A associação do risco de TARE com sintomas, alimentos e ingestão de macro e micronutrientes foi avaliada pelo qui-quadrado de Pearson ou Teste exato de Fisher. Foi considerada significância estatística p<0,05. Foram avaliados 53 pacientes. Sendo 81% mulheres, mediana de idade 29(20-49)anos, maioria estudante (53%). Do total, 15 pacientes (28%) foram classificados com risco de TARE conforme a pontuação do NIAS. A frequência de sintomas foi: ansiedade (22%); estresse (21%); distensão abdominal (20%); azia (16%); excesso de gases (16%); má digestão (15%); náuseas e vômitos (14%); tristeza (13%); cansaço (14%); refluxo (12%); dor de cabeça (12%) . Os alimentos que mais causam desconfortos foram lácteos (53%) e alimentos fritos e gordurosos (52%). Foi observada mediana de inadequação na ingestão de fibras, vitaminas, A, D, C, E, B12, Cálcio e Ferro. Não foi encontrada associação entre o risco de TARE com qualquer sintoma ou alimento. Porém, foi observado que o risco de TARE está associado à ingestão inadequada de vitamina C e Cálcio (p < 0,05). Conclui-se que o TARE pode influenciar negativamente na ingestão alimentar demonstrado nesse estudo pela associação com inadequação da ingestão de vitamina C e Cálcio. |