| Resumo |
Este trabalho apresenta uma reflexão sobre os processos de ensino e aprendizagem vivenciados no contexto de uma Escola do Campo, localizada na comunidade da Capivara, no município de São Miguel do Anta (MG), a partir das potencialidades e desafios identificados no cotidiano escolar. A investigação está vinculada à especialização em Educação do Campo – Escola da Terra e fundamenta-se nos pressupostos teórico-metodológicos da abordagem qualitativa, de natureza exploratória e caráter documental. As análises têm como base atividades desenvolvidas com estudantes do Ensino Médio, no componente dos Itinerários Formativos da área de Ciências da Natureza e no Projeto de Vida, em consonância com as exigências do Novo Ensino Médio.O objetivo central foi compreender como a valorização da cultura local e das identidades dos sujeitos do campo pode contribuir para um ensino mais contextualizado, significativo e transformador. As atividades propostas favoreceram o protagonismo estudantil, permitindo que os próprios alunos definissem temas de interesse, realizassem entrevistas com membros da comunidade, conduzissem rodas de conversa com a equipe gestora e refletissem sobre os elementos que caracterizam sua escola como uma verdadeira Escola do Campo. A partir da escuta atenta de diferentes vozes – estudantes, gestores, professores e comunidade –, emergiram questões relevantes sobre a história da escola, suas práticas pedagógicas, condições estruturais, vínculos com o território e as políticas públicas direcionadas à educação rural. Os resultados revelam que, apesar das adversidades enfrentadas, como o acesso limitado, transporte escolar precário e carência de recursos, a Escola do Campo se constitui como espaço privilegiado de resistência, construção de saberes e fortalecimento de identidades. A valorização da memória coletiva, das práticas culturais e do conhecimento territorial desponta como elemento central para a formação integral dos estudantes e para o enfrentamento das desigualdades históricas vivenciadas pelos povos do campo. Conclui-se que reconhecer e legitimar a Escola do Campo como parte fundamental da democratização do ensino implica investir em políticas públicas específicas, repensar os currículos à luz das realidades locais e promover ações pedagógicas comprometidas com a emancipação dos sujeitos. A experiência relatada demonstra que é possível cultivar uma educação crítica, dialógica e transformadora, ancorada na escuta, no respeito à diversidade e na valorização do território. |