| Resumo |
Este artigo analisa o movimento modernista de Cataguases (MG) e sua plataforma de difusão, a Revista Verde (1927-1929), enquanto manifestação relevante para a compreensão da pluralidade do Modernismo brasileiro. Sustenta-se que o grupo mineiro ultrapassou a condição de mero receptor das ideias oriundas do modernismo paulista, ao associar as conquistas formais às questões sociais inseridas no contexto local. A análise do periódico evidencia a maneira pela qual o grupo conciliou a experimentação estética a um aguçado senso de realidade regional, de modo a estabelecer interlocução profícua com o regionalismo crítico característico da geração de 1930. Entende-se, assim, que o estudo da experiência da Verde enriquece a percepção de uma modernidade complexa, pois demonstra que a renovação cultural no Brasil floresceu, também, nas zonas consideradas periféricas, com vigor e singularidade. Para além da defesa da liberdade formal, expressa na adoção do verso livre e no repúdio aos modelos parnasianos, a Revista Verde consolidou-se como veículo de circulação e legitimação de obras literárias inovadoras. O periódico acolheu jovens intelectuais profundamente imbricados nos debates culturais contemporâneos, mas igualmente atentos às contradições socioeconômicas do processo de modernização vivido na Zona da Mata mineira. Ao reunir colaboradores provenientes de diferentes regiões do Brasil e de países latino-americanos, a revista articulou um projeto de regionalismo, afastado de perspectivas meramente pitorescas, voltado à construção de uma literatura autenticamente brasileira e comprometida com a realidade nacional. A análise em curso demonstra, portanto, que a Verde se firmou como espaço privilegiado de vanguarda literária, integrando-se ao movimento mais amplo de abrasileiramento da produção cultural, além de constituir testemunho relevante do trânsito de ideias modernistas para além dos grandes centros urbanos. Reconhecer a contribuição do grupo de Cataguases revela-se, portanto, essencial para compreender os Modernismos brasileiros sob a perspectiva plural, com vistas a reafirmar que a modernidade literária nacional se edificou nas interações e tensões que emergiram nos interstícios culturais do país. |