| Resumo |
A casca de soja é um resíduo agroindustrial abundante no Brasil, sendo rica em celulose e hemicelulose, e pode ser utilizada como matéria-prima para a produção de bioprodutos de maior valor agregado, como etanol e xilitol, alinhando-se aos conceitos de bioeconomia e aproveitamento sustentável de resíduos. As leveduras possuem papel essencial nesse processo, destacando-se Meyerozyma guilliermondii, que apresenta potencial na biotransformação de xilose em xilitol e Saccharomyces cerevisiae, amplamente utilizada na fermentação da glicose em etanol. Este trabalho teve como objetivo avaliar a fermentação dos açúcares liberados pela hidrólise enzimática da casca de soja, utilizando leveduras selecionadas para a produção de etanol e xilitol. Além disso, foi comparado o desempenho fermentativo entre a casca de soja in natura inteira e a casca previamente moída. Inicialmente, a casca de soja, na forma in natura e moída, foi submetida à hidrólise enzimática em meio reacional contendo 10 % (m/v) de biomassa, com adição de 5 g da enzima Cellic CTec3® para cada 100 g de celulose, durante 120 horas a 50 °C e 200 rpm, resultando em um hidrolisado rico em glicose e xilose. Em seguida, a fermentação foi realizada com as leveduras M. guilliermondii, S. cerevisiae FT858 e S. cerevisiae ADY®, utilizando 0,1 g de levedura para cada 100 mL de caldo hidrolisado. O experimento comparou a utilização da casca de soja inteira e moída, com o monitoramento dos teores de glicose, xilose, etanol e xilitol ao longo de 72 horas. Observou-se que a moagem da casca de soja favoreceu o consumo de açúcares pelas leveduras, resultando em maior produção de etanol e xilitol nos ensaios com a biomassa lignocelulósica moída. Nessas condições, a levedura M. guilliermondii, realizou maior conversão de xilose em xilitol (93,28%) e de glicose em etanol (22,58%) após 72 h, enquanto a levedura comercial ADY® apresentou conversão de xilose em xilitol de 80,46% e conversão de glicose em etanol de 6,65%. Para S. cerevisiae FT 858, a conversão em xilitol foi de 66,34% e de etanol em 6,27%. Esses resultados indicaram que a levedura M. guilliermondii foi a mais eficiente para a coprodução de etanol e xilitol, destacando-se como uma estratégia viável para o aproveitamento integral da biomassa residual. Conclui-se que a casca de soja, mesmo sem a etapa de pré-tratamento convencional, pode ser hidrolisada enzimaticamente e utilizada como uma alternativa promissora para a produção de etanol e xilitol com leveduras selecionadas. A moagem da biomassa mostrou-se um fator relevante para o aumento do rendimento de xilitol. Esses resultados reforçam o potencial de valorização de resíduos agroindustriais e contribuem para a sustentabilidade das cadeias produtivas, tornando o processo atrativo para biorrefinarias que buscam diversificar seus produtos e desenvolver rotas integradas de aproveitamento de resíduos agrícolas no Brasil. |