| Resumo |
A crescente utilização de defensivos agrícolas como o Calaris®, uma mistura comercial dos herbicidas atrazina e mesotriona, levanta preocupações quanto aos riscos a fêmeas gestantes, por possível comprometimento da gestação. A atrazina, amplamente empregada na agricultura, é um desregulador endócrino com elevada persistência ambiental. Já a mesotriona, embora bastante utilizada, ainda carece de dados conclusivos sobre seus efeitos em organismos não-alvo, sendo relacionada ao estresse oxidativo e danos ao DNA em vertebrados. A placenta exerce papel essencial no desenvolvimento fetal, promovendo a troca de nutrientes e gases, remoção de resíduos metabólicos e produção hormonal, sendo uma comunicação materno-fetal. O órgão é considerado um alvo vulnerável à toxicidade de xenobióticos. Este estudo teve como objetivo avaliar os efeitos da exposição gestacional ao Calaris® sobre o perfil de estresse oxidativo placentário em ratas Wistar. Para isso, fêmeas prenhes foram divididas em três grupos. Animais do grupo controle foram tratados com água destilada, enquanto as demais fêmeas foram expostas ao Calaris® nas doses de 2 mg Kg-1 e 20 mg Kg-1. A administração das soluções ocorreu diariamente por gavagem do dia gestacional 1 (DG1) até a eutanásia, no DG19 (CEUA processo 32/2023). As placentas foram coletadas para análise da atividade das enzimas antioxidantes superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT) e glutationa S-transferase (GST), bem como para avaliação dos níveis de marcadores de dano oxidativo como malondialdeído (MDA), óxido nítrico (NO) e proteína carbonilada (PC). Os resultados foram normalizados pelos valores de proteína total. Os dados foram submetidos ao teste de normalidade Shapiro Wilk e ANOVA one way, sendo as médias comparadas pelo teste post-hoc de Tukey. Os dados foram considerados significativos quando p < 0.05 e apresentados como média ± desvio padrão da média. Os resultados mostraram que a exposição à dose de 20 mg Kg-1 promoveu uma redução significativa na defesa antioxidante placentária. A atividade de SOD (0,63 ± 0,16; U/mg ptn), CAT (19,68 ± 2,89; U/mg ptn) e GST (0,98 ± 0,17; U/mg ptn) foi menor nos animais do grupo de 20 mg Kg-1 quando comparado aos controles (0,83 ± 0,17; 24,14 ± 2,15 e 1,31 ± 0,29, respectivamente). Além disso, observou-se aumento significativo na concentração de NO (µmol.L-1) nos grupos expostos a 2 mg Kg-1 (24,48 ± 3,56) e 20 mg Kg-1 (26,16 ± 3,08) quando comparados aos animais controle (19,79 ± 1,89). Ainda, houve um aumento nas concentrações de MDA (nmol/mg ptn) e PC (nmol.ml-1) na dose mais alta (0,47 ± 0,05 e 2,65 ± 0,42, respectivamente) quando comparados aos animais controles (0,40 ± 0,04 e 1,82 ± 0,40, respectivamente). Em conclusão, a exposição gestacional ao Calaris®, principalmente na concentração de 20 mg Kg-1, desencadeia estresse oxidativo e falha na resposta antioxidante da placenta de ratas Wistar. Esses achados sugerem que elevadas doses do herbicida comprometem a integridade placentária. |