| Resumo |
Esta pesquisa propõe uma leitura intersemiótica do poema em prosa "O Porto", de Charles Baudelaire, a partir da articulação entre literatura e imagem. Considerando a intensificação desse diálogo no século XIX, conforme apontado por Philippe Hamon (2007), investigamos como a linguagem literária, especialmente no campo da lírica moderna urbana, absorve procedimentos descritivos inspirados nas artes visuais. A hipótese que norteia a pesquisa é a de que a escrita de Baudelaire, marcada por forte sensibilidade estética e por seu envolvimento direto com a crítica de arte, oferece terreno fértil para o exame dos chamados “marcadores picturais”, conforme conceituados por Liliane Louvel (2006): elementos do texto verbal que sinalizam a presença ou a evocação de imagens, funcionando como operadores de visualidade na construção do significado literário. Nesse sentido, nosso objetivo foi identificar e analisar esses expedientes textuais no poema “O Porto”, explorando como eles operam na elaboração de representação fortemente imagética. Para tanto, a análise do corpus poético foi articulada às contribuições teóricas de Louvel (2006, 2012) e Hamon (2007), além de reflexões críticas sobre a modernidade artística e estética, elaboradas por Baudelaire em seus ensaios "O Pintor da vida moderna" e "Salão de 1859". Destacamos que a escolha do corpus se justifica não apenas pela relevância de Baudelaire no contexto da modernidade literária de inspiração citadina, mas também por sua produção poética atravessada por descrições que remetem diretamente ao campo pictórico, revelando um olhar que transita entre a palavra e a imagem. De fato, tal abertura à visualidade já se insinua na dedicatória que inaugura a coletânea "Pequenos Poemas em Prosa" (1869), na qual o poeta compara seu projeto ao de Aloysius Bertrand, propondo-se a pintar o caráter pitoresco da vida moderna e apontando para a busca de um procedimento de fusão entre o lírico e o pictórico. Por fim, enfatizamos que, no poema “O Porto”, a presença de marcadores picturais evidencia o modo pelo qual Baudelaire transforma a experiência literária da cidade em uma cena visual e afetiva, procedimento que será recorrente em sua obra. Assim, tal estudo se configura como etapa importante para a compreensão de sua literatura, contribuindo para um entendimento mais amplo de seus procedimentos poético-imagéticos. |