| Resumo |
Introdução: A obesidade persiste como problema de saúde pública, e a cirurgia bariátrica, embora reconhecida por promover perda ponderal duradoura, não extingue o risco de recidiva deste agravo. Objetivo: compreender como adultos vivenciam o reganho superior a 10 % do menor peso pós‑operatório, identificando motivações subjacentes e repercussões para o cuidado longitudinal. Método: Adotou‑se delineamento qualitativo, ancorado na Fenomenologia Social de Alfred Schütz para apreender “motivos‑porque” e “motivos‑para”, articulado à Teoria da Autodeterminação para interpretar necessidades de autonomia, competência e relacionamento. Entrevistaram‑se sete sujeitos (cinco mulheres, dois homens; 37–62 anos, média≈46) com 2 anos 5 meses a 13 anos de cirurgia (média≈6,5) e reganho médio de 21 % do peso mínimo (8–56 %). As entrevistas semiestruturadas, gravadas e transcritas, foram realizadas entre fevereiro e maio de 2025 em consultório referência para bariátrica em Minas Gerais e analisadas por leitura compreensiva, extração de unidades de significado, agrupamento em categorias e síntese interpretativa. Resultados: Emergiram fatores biográficos e emocionais anteriores – sobrepeso infantil, gravidezes, luto, violência, depressão – combinados à reintrodução de alimentos hiperpalatáveis e ao consumo progressivo de álcool, que precipitaram o ganho de peso. A interrupção do acompanhamento multiprofissional após o primeiro ano ampliou lacunas de competência para autorregular alimentação, atividade física e manejo de ansiedade. Predominaram auto culpabilização, frustração e ameaça à autoestima; entretanto, alguns participantes normalizaram o reganho ou o valorizaram como resgate de energia. Os “motivos‑para” centraram‑se em preservar a saúde metabólica e recuperar a funcionalidade, mas a sustentação dessas metas dependeu de suporte psicológico contínuo e de estratégias que reforçassem autonomia decisória. Conclusão: Conclui‑se que o reganho pós‑bariátrica é multifatorial, atravessado por dimensões históricas, emocionais e psicossociais, exigindo abordagem interdisciplinar que ultrapasse a métrica do peso, integre o cuidado motivacional prolongado e considere o contexto de vida dos sujeitos para manter os benefícios cirúrgicos. |