| Resumo |
O debate sobre a inclusão de gênero e raça na educação tem se intensificado nos últimos anos, reforçando a necessidade de descolonizar os currículos e promover uma formação docente crítica. A Lei nº 10.639/03 representa um avanço nesse processo ao tornar obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Soma-se a isso a urgência de incorporar a temática de gênero nos currículos, superando práticas que reproduzem o sexismo e a heteronormatividade. Nesse contexto, a formação docente precisa estar comprometida com a construção de práticas pedagógicas antirracistas, antissexistas e socialmente transformadoras. Diante desse cenário, esta pesquisa de iniciação científica teve como objetivo geral analisar a presença das temáticas de gênero e raça nos cursos de licenciatura da Universidade Federal de Viçosa. Em relação aos objetivos específicos, foram definidos: (1) verificar, nos programas analíticos dos cursos, se há disciplinas com enfoque direto em gênero e raça; e (2) investigar, nos planos de ensino das disciplinas, se tais temas são contemplados e de que forma são abordados. Para alcançar esses objetivos, a pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, estruturada em três etapas: revisão bibliográfica para embasamento teórico; análise dos programas analíticos dos cursos de licenciatura da UFV, visando identificar conteúdos sobre gênero e raça; e análise dos planos de ensino, com o intuito de verificar a presença dessas temáticas e a maneira como são tratadas. A partir da análise dos documentos, constatou-se que apenas três dos treze cursos analisados possuem disciplinas que abordam diretamente essas temáticas: Licenciatura em Ciências Sociais, Licenciatura em Educação Física e Educação do Campo. Esses cursos estão vinculados aos Centros de Ciências Humanas, Letras e Artes, e ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. Além disso, identificou-se que, em dezesseis dos 87 planos de ensino analisados, conteúdos relacionados às temáticas de gênero e raça foram incorporados, em sua maioria, por iniciativa individual dos(as) docentes e, muitas vezes, de forma transversal. Conclui-se, portanto, que, embora existam algumas iniciativas, as discussões sobre gênero e raça ainda ocupam um espaço limitado na formação inicial dos(as) futuros(as) professores(as). Quando presentes, essas temáticas aparecem, em geral, de forma indireta, vinculadas à iniciativa individual dos(as) docentes, e não como diretriz curricular estruturada. Diante disso, reforça-se a importância de revisar os documentos institucionais, fortalecer a inserção dessas pautas nos currículos universitários e consolidar esses debates em todas as áreas do conhecimento, promovendo uma formação docente mais crítica, inclusiva e comprometida com a diversidade e a justiça social. |