| Resumo |
A necessidade crescente por alimentos, acompanhada do aumento populacional, tem intensificado o uso de defensivos agrícolas. O uso de misturas comerciais de herbicidas, como a associação de atrazina e mesotriona no produto Calaris®, acabam suscitando preocupações sobre seus impactos na saúde de humanos e animais, especialmente durante momentos fisiológicos mais vulneráveis da vida, como o período gestacional. A atrazina é um herbicida utilizado mundialmente, com efeitos tóxicos conhecidos em organismos não alvo, enquanto os efeitos nocivos da mesotriona ainda carecem de estudos. Considerando a relevância da saúde materna para o desenvolvimento gestacional, este estudo teve como objetivo avaliar os efeitos da exposição gestacional ao Calaris® sobre parâmetros bioquímicos séricos de ratas Wistar prenhes. Fêmeas prenhes foram divididas em três grupos experimentais (n=8 fêmeas/grupo) e receberam água destilada (Controle), Calaris® 2 mg Kg-1 e Calaris® 20 mg Kg-1, todos administrados diariamente por gavagem entre os dias 1 da gestação (DG1) e o DG19, quando os animais foram eutanasiados (CEUA processo 32/2023). No DG19, amostras de sangue das mães foram coletadas para análise das concentrações séricas de ureia, creatinina, ácido úrico, alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST) e fosfatase alcalina (ALP). As análises foram realizadas utilizando kits bioquímicos (Laboratórios Bioclin, Belo Horizonte, MG, Brasil). Os dados foram submetidos ao teste de normalidade Shapiro Wilk e ANOVA one way, sendo as médias comparadas pelo teste post-hoc de Tukey ao nível de significância de 5%. Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão. A exposição ao Calaris® induziu alterações significativas nos parâmetros bioquímicos maternos de forma dose-dependente. Observou-se uma maior concentração de ureia e creatinina em ratas expostas a 20 mg Kg-1 de Calaris® (59,56 ± 4,73 e 0,98 ± 0,09 mg dL−1, respectivamente) que em ratas controle (45,17 ± 3,58 e 0,81 ± 0,09 mg dL−1, respectivamente), indicando um comprometimento da função renal materna. Além disso, as concentrações de marcadores de lesão hepática ALT, AST e ALP também foram maiores em ratas que receberam maior dose do herbicida (182,76 ± 5,58, 108,17 ± 5,09 e 138,13 ± 6,00 u/l, respectivamente) que em animais controles (163,92 ± 3,45, 103,32 ± 4,22 e 126,17 ± 4,84 u/l, respectivamente), sugerindo danos hepáticos. Embora o ácido úrico tenha mostrado uma tendência de aumento na dose mais alta, esta alteração não foi estatisticamente significativa (p > 0.05). Apenas a concentração de ureia aumentou nos animais expostos a 2 mg Kg-1 do herbicida em comparação aos animais expostos à maior dose. Em conclusão, a exposição gestacional ao herbicida Calaris®, na concentração de 20 mg Kg-1, causou alterações bioquímicas renais e hepáticas nas mães. Essas disfunções orgânicas maternas podem ter implicações diretas na saúde da mãe durante e após a gestação. |