| Resumo |
As serpentes são animais de extrema importância ecológica, econômica e médica, além de apresentarem alta diversidade, com mais de 4.000 espécies descritas no mundo e cerca de 440 no Brasil. No estado de Minas Gerais, são registradas cerca de 160 espécies, incluindo representantes de quatro gêneros de serpentes peçonhentas (Bothrops, Crotalus, Micrurus e Lachesis). Estima-se que existam aproximadamente 76 espécies de serpentes peçonhentas em todo o território brasileiro, sendo que, em Minas Gerais, o total são 20 espécies. No ano de 2024, cerca de 2.500 acidentes ofídicos foram registrados em Minas Gerais. Neste trabalho, realizamos um levantamento de ofídios peçonhentos nas regiões do Quadrilátero Ferrífero e da Zona da Mata, um ecótono entre o Cerrado e a Mata Atlântica, que possui grande relevância para a saúde pública. Visitamos as coleções mais representativas da Zona da Mata Mineira e do Quadrilátero Ferrífero, incluindo coleção zoológica da Fundação Ezequiel Dias (FUNED) em Belo Horizonte, e a coleção herpetológica do Museu de Zoologia João Moojen, da Universidade Federal de Viçosa (MZUFV). Adicionalmente, reunimos informações de trabalhos e artigos científicos sobre a fauna dessas regiões-alvo, ampliando a amostragem ao incorporar registros adicionais que não se restringem às coleções depositadas. Nesses registros, encontramos 12 espécies de serpentes peçonhentas, sendo elas: Bothrops jararaca ocorrendo em 44 municípios, seguida de Crotalus durissus ocorrendo em 31 municípios, Micrurus frontalis ocorrendo em 27 municípios, B. neuwiedi registrada em 22 municípios, M. carvalhoi registrada em 16 municípios, B. jararacussu e B. marmoratus em 9 municípios, B. alternatus e M. corallinus em 8 municípios, B. moojeni em 7 municípios. As serpentes de menor distribuição foram M. decoratus e Lachesis rhombeata, registradas em um município cada. Observamos que B. marmoratus ocorre exclusivamente no Quadrilátero Ferrífero, enquanto L. rhombeata e M. decoratus possuem registros apenas na Zona da Mata, as demais espécies apresentam registros em ambas as regiões. O levantamento também demonstrou que C. durissus tem sido frequentemente registrada em áreas da Zona da Mata, onde antes não ocorria. Esse aumento expressivo em regiões de Mata Atlântica pode estar relacionado ao desmatamento, sendo que o primeiro registro no município de Viçosa foi em 2015. Por outro lado, algumas espécies tiveram um aparente declínio, como L. rhombeata, que teve os últimos registros na Zona da Mata na década de 1980, sugerindo que as pressões antrópicas e o desmatamento podem ter levado ao desaparecimento local dessa espécie. Esse trabalho reforça a importância de estudos regionais da herpetofauna para a compreensão da distribuição de serpentes peçonhentas e seus impactos na saúde pública. |