| Resumo |
A presente pesquisa consiste na análise da experiência de Paulo Freire, patrono da educação brasileira, no período em que contribuiu com o Comissariado da Educação da Guiné-Bissau, a partir de um convite, em 1975, pela nação recém-independente de Portugal. Para esse fim, utilizamos de cartas trocadas por Freire, compiladas na obra “Cartas à Guiné-Bissau: registros de uma experiência em processo” (2021). O recorte da pesquisa abarca o período de trocas de cartas por Freire nesta obra, datando de 1975 até 1977.Contudo, nossa proposta está atenta para perceber diálogos presentes na experiência de Freire com ideias presentes no projeto de nação dirigido pelo PAIGC, que via no legado de Amílcar Cabral, seu líder, o caminho para a formação de “novos homens” e “novas mulheres”. Para essa análise, também utilizaremos dos escritos de Cabral, anteriores ao seu assassinato, em 1973. A escolha por esses dois intelectuais para investigarmos o papel da educação na formação de uma nova sociedade, vem justamente do valor que ambos conferem a esta temática. O PAIGC enxergava em Paulo Freire um intelectual capaz de auxiliar na alfabetização de uma sociedade de maioria analfabeta. Por outro lado, Freire via Cabral como o “Educador-Educando de seu povo”. O objetivo central deste trabalho é investigar como a experiência de Freire, em um país de maioria analfabeta, está inserida em uma realidade que tem nas ideias de Amílcar Cabral o caminho para a construção nacional da Guiné-Bissau, tendo como ênfase a abordagem dos aspectos educativos nas obras analisadas. As fontes utilizadas para a execução são um conjunto de cartas trocadas por Freire com Mário Cabral, Comissário de Educação da Guiné-Bissau no período, e também com equipes de trabalho que atuavam no país. Estas cartas estão compiladas na obra “Cartas à Guiné-Bissau: registros de uma experiência em processo” (FREIRE, 2021). Além disso, analisaremos textos de autoria de Amílcar Cabral compilados na obra intitulada “A Arma da Teoria: Unidade e Luta I” (CABRAL, 1978). A relevância da realização desta pesquisa está inserida no processo de renovação das temáticas trabalhadas no campo historiográfico, com as sociedades africanas e suas experiências ganhando espaços de debate nos círculos acadêmicos. Nesse sentido, estudar a Guiné-Bissau e seu contexto pós-independência significa trazer novas questões para nossa área de atuação. Apesar de ter sido o primeiro país de colonização portuguesa a conquistar sua independência, a experiência guineense ainda é pouco explorada - Angola e Moçambique, normalmente, recebem maior atenção, tendo trabalhos que tomam como discussão os líderes Eduardo Mondlane e Samora Machel, em Moçambique, bem como os militantes do MPLA, em Angola. Assim sendo, investigar a experiência de Freire, em um contexto pós-colonial, abre possibilidade para explorar as complexidades da realidade da Guiné-Bissau, recém-saída da guerra de libertação. |