| Resumo |
O câncer é um conjunto de doenças caracterizadas pelo crescimento desordenado de células, constituindo um dos mais graves problemas de saúde pública no mundo. Em 2018, foi responsável por cerca de 9,6 milhões de óbitos e há projeções de aproximadamente 29,5 milhões de novos casos até 2040. Apesar dos avanços da medicina e dos tratamentos disponíveis, o câncer ainda é percebido como uma doença temida, frequentemente associada ao sofrimento, à baixa expectativa de vida e à morte. Os desafios se intensificam quando o tratamento exige deslocamento para outros municípios, devido à ausência de serviços especializados na cidade de residência. Considerando que o adoecimento impacta diretamente a organização familiar, esta pesquisa analisa as implicações do câncer em pacientes da região imediata de Viçosa (MG) que realizam Tratamento Fora do Domicílio (TFD), com foco nas redes de apoio, na dinâmica familiar e nos deslocamentos. Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória, com abordagem quali-quantitativa, utilizando o estudo de caso como método. O estudo foi realizado em dez municípios da região, com amostra composta por 63 pacientes oncológicos ou seus cuidadores. Os dados revelaram que a maioria dos beneficiários do TFD são mulheres, casadas, com ensino fundamental, profissão de lavradora e renda de até um salário-mínimo. Os tipos de câncer mais frequentes foram mama (34,9%), próstata (12,7%) e intestino (7,9%). A cirurgia foi o procedimento principal em 84,1% dos casos, seguida da quimioterapia (63,4%). Entre as mulheres submetidas aos três tratamentos (cirurgia, quimioterapia e radioterapia), 88,9% eram mães, sendo que oito delas tinham filhos menores de idade e/ou com alguma deficiência, o que evidencia seu papel como cuidadoras principais. Os deslocamentos impactaram diretamente a rotina familiar, sobretudo das mulheres. A família foi apontada como a principal rede de apoio, oferecendo suporte financeiro, emocional e logístico, acompanhando os deslocamentos e auxiliando nas demandas do cotidiano. As viagens foram descritas como cansativas, agravadas pelos efeitos colaterais do tratamento. Contudo, as relações construídas ao longo do processo e o acolhimento nas instituições de saúde contribuíram para a aceitação dos desafios enfrentados. Conclui-se que a necessidade de deslocamentos impõe diversos desafios aos pacientes e às suas famílias. Entretanto, o desejo de cura, o apoio familiar, os vínculos afetivos e o acolhimento institucional mostraram-se fundamentais para promover resiliência e favorecer a continuidade do tratamento. Torna-se, assim, essencial a formulação e o fortalecimento de políticas públicas que amparem pacientes e familiares, por meio de apoio financeiro e de melhores condições de acesso, permanência e cuidado durante todo o processo terapêutico. |