| Resumo |
Em meio aos crescentes desafios relacionados ao desenvolvimento sustentável e à valorização de modelos produtivos mais inclusivos, a sociobioeconomia da Amazônia se apresenta como uma alternativa estratégica para impulsionar a economia brasileira a partir de práticas que conciliam geração de renda, conservação da biodiversidade, inclusão social e valorização dos saberes tradicionais. Nesse cenário, as cooperativas agroextrativistas desempenham papel fundamental na organização das cadeias produtivas sustentáveis e na promoção da governança participativa e democrática, especialmente em territórios ocupados por populações tradicionais. Ainda assim, são escassos os estudos que abordam de forma aprofundada como essas organizações têm incorporado práticas de equidade de gênero e fortalecido o protagonismo das mulheres em suas estruturas institucionais. A Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas do Bailique e Beira Amazonas (Amazonbai), localizada no Arquipélago do Bailique, no estado do Amapá, constitui uma experiência emblemática nesse contexto. Reconhecida pela atuação na cadeia do açaí e por sua adesão a certificações socioambientais, a cooperativa tem avançado significativamente na promoção da participação feminina, por meio da criação de comissões de mulheres, estímulo à formação técnica, adoção de políticas de salvaguarda e incentivo à presença ativa nos espaços de decisão. Esta pesquisa, de caráter qualitativo e exploratório, teve como objetivo analisar os mecanismos institucionais implementados pela Amazonbai para promover a inserção, a participação ativa e o empoderamento das mulheres em suas atividades produtivas e estruturas de governança. A metodologia adotada inclui estudo de caso, com triangulação de dados coletados por meio de entrevista semiestruturada com o presidente da cooperativa, grupo focal com o presidente e a vice-presidente e análise de documentos internos, como estatuto social, regimento interno, atas e planejamentos estratégicos. Os resultados mostram que a Amazonbai consolidou estruturas institucionais de governança que garantem a participação formal das mulheres, assegurando seus direitos e sua representatividade nos processos decisórios. Pela primeira vez, mulheres foram eleitas para a diretoria da cooperativa, marcando um avanço histórico e simbólico na equidade de gênero dentro da organização. Além disso, as mulheres ampliaram sua atuação em atividades produtivas, com destaque para o manejo sustentável do açaí, a certificação orgânica e a participação em comissões de monitoramento e salvaguardas. Elas também integram grupos de trabalho que mapeiam riscos e situações de violência associadas às atividades produtivas, reforçando a dimensão social e protetiva da governança cooperativa. Conclui-se que as transformações institucionais observadas refletem o fortalecimento do capital social e o reconhecimento da importância da diversidade de gênero na governança e na sustentabilidade dos territórios amazônicos. |