| Resumo |
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) representou um marco na política de saúde mental no Brasil. Baseada nos princípios da reforma psiquiátrica, com o desenho de dispositivos de saúde que priorizam o cuidado em liberdade, territorializado e focado na singularidade do sujeito foram instituídas diretrizes que propõem a atenção psicossocial diante da complexidade do sofrimento psíquico e do uso problemático de substâncias psicoativas. Nesse contexto, tem-se as famílias tanto como participantes do processo terapêutico de seu membro quanto como sujeitos que demandam atenção singular. A partir desse cenário, o presente estudo propõe analisar a expectativa de profissionais da saúde mental em relação aos familiares no acompanhamento do usuário de substância psicoativa, bem como analisar a expectativa da família em relação às condutas de profissionais da saúde mental. A relevância da investigação reside na necessidade de aprofundar a compreensão sobre as demandas familiares e profissionais, bem como na importância de práticas que promovam o fortalecimento de vínculos, contribuindo para a qualificação do cuidado em saúde mental. Como parte de uma tese de doutorado ainda em elaboração foram realizadas 30 entrevistas semiestruturadas, sendo 15 com familiares de pessoas que fazem uso prejudicial de substância psicoativa e 15 com profissionais da Rede de Atenção Psicossocial. As entrevistas ocorreram entre setembro de 2023 e maio de 2025, em Município de porte médio, do Interior de Minas Gerais. Realizou-se uma análise qualitativa dos dados. Entre os conteúdos emergentes encontrou-se: expectativa dos familiares de cura e proposta de cuidado em serviços considerados manicomiais na visão dos profissionais da rede de atenção psicossocial; necessidade de informações sobre as propostas dos serviços da rede de atenção psicossocial, bem como de serviços que possuem abordagens proibicionaistas; influência de familiares e serviços no cuidado direcionado às pessoas que fazem uso de substâncias psicoativas; sistemas sociais, políticos, de saúde e de educação, influenciando o comportamento dos profissionais e a percepção que possuem das famílias. Percebe-se a necessidade de aprimoramentos para o desenvolvimento de uma Rede de Atenção Psicossocial com o cuidado integral e humanizado. O funcionamento do SUS esbarra em desafios como o redirecionamento de políticas públicas, a interrupção de ações contínuas, limitações no financiamento e o enfraquecimento de dispositivos substitutivos, fatores que dificultam a consolidação de práticas territorializadas e o apoio efetivo às famílias. |