| Resumo |
Este trabalho toma como referência os resultados da pesquisa intitulada “Presenças e agências negras nos programas de pós - graduações: um estudo de caso na UFV - MG” aprovada no edital PIBIC UFV / PIBIC FAPEMIG 2024. A investigação compõe o projeto vinculado ao Edital 037/2022 da CAPES – Programa Alteridade na Pós-Graduação, com vigência entre 2023 a 2027. Parte-se da compreensão de que o ambiente universitário brasileiro é atravessado por desigualdades estruturais que impactam a trajetória de estudantes negros(as), mesmo diante dos avanços das ações afirmativas. O objetivo geral é investigar o perfil e as experiências de discentes cotistas ingressantes nos Programas de Pós-Graduação da UFV em 2024 nos Centros de Ciências Exatas e Humanas, evidenciando suas agências, desafios de permanência e como suas trajetórias se articulam com as temáticas étnico-raciais e de gênero. Os objetivos específicos incluem: realizar diagnóstico qualitativo dos(as) discentes cotistas ingressantes; refletir, a partir de suas percepções, sobre os obstáculos à permanência; e mapear as produções científicas desenvolvidas por cotistas negros(as), identificando suas relações com as questões raciais e de gênero. A metodologia adotada é qualitativa, mediante o envio de questionários aos estudantes cotistas da UFV e realização de entrevistas semiestruturadas àqueles que se disponibilizarem a participar da pesquisa. Até o momento, foram realizadas três entrevistas com discentes vinculados aos programas de pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Geografia e Serviço Social. A análise parcial dos dados revela que os desafios enfrentados por esses estudantes são atravessados por múltiplas opressões. Situações como o redirecionamento de candidatos cotistas com alto desempenho para a ampla concorrência, embora institucionalizado, têm sido relatadas como fonte de insegurança e desigualdade, especialmente no acesso a bolsas e outras políticas de permanência. Observa-se, também, uma maior adesão à pesquisa por parte de participantes vinculados ao CCH, indicando possíveis diferenças na forma como os campos do conhecimento incorporam (ou não) debates sobre raça e permanência. Conclui-se, até o momento, que a permanência de estudantes negros(as) na pós-graduação envolve não apenas a continuidade formal e material nos programas, mas está atravessada por uma série de desafios cotidianos, simbólicos, institucionais e estruturais. Quando analisadas a partir de uma perspectiva interseccional, tais experiências revelam as marcas do racismo, expressas nas dificuldades de inserção e reconhecimento em espaços como os laboratórios de pesquisa, nas tensões nas relações com orientadores(as), na realocação de estudantes cotistas para vagas de ampla concorrência, nas barreiras de deslocamento até os campi e na necessidade de dividir o valor das bolsas com o sustento familiar, exigindo desses sujeitos o constante enfrentamento de barreiras adicionais em suas trajetórias acadêmicas. |