| Resumo |
O efeito fundador (EF) pode causar alterações morfológicas importantes, frequentemente observadas em ilhas, onde os organismos apresentam caracteres distintos de seus ancestrais continentais. Tais modificações são atribuídas à reduzida variabilidade genética dos fundadores, em comparação com a população original, e às novas pressões seletivas impostas pelo ambiente. Neste estudo, buscamos compreender as consequências do EF sobre a estabilidade do desenvolvimento, utilizando a assimetria das asas de Drosophila sturtevanti Duda, 1927 (Diptera: Drosophilidae) como modelo. A assimetria bilateral pode ser dividida em assimetria direcional (AD), considerada uma característica da espécie (ex.: o coração, em média, voltado para a esquerda em humanos), e assimetria flutuante (AF), resultante de perturbações ambientais (a posição do coração varia entre os indivíduos). Resultados anteriores revelaram que, nas asas dos machos de uma linhagem isofêmea de D. sturtevanti (todos os machos são descendentes de uma única fêmea fundadora), L01, a AD aumentou em intensidade da geração G0 (campo) para F1 (primeira geração obtida no laboratório) e reduziu de F1 para F10 (décima geração), com alteração na direção em ambas as comparações. Não houve diferença significativa na AD entre as amostras de campo de 2022 e 2024, corroborando a hipótese de que a AD é estável na espécie. Neste trabalho, incluímos a geração F31 de L01 para testar as hipóteses de que (i) a AF seria mais intensa em F1 (devido à mudança brusca de ambiente) do que nas gerações seguintes (adaptação), e que (ii) a AD reduziria ainda mais de F10 para F31, com menor, ou nenhuma alteração na direção, sugerindo nova canalização do desenvolvimento já em F10. Para facilitar a comparação entre os grupos, denominamos as amostras como 22 (campo, 2022), 24 (campo, 2024), F1, F10 e F31. As coordenadas dos marcos anatômicos foram submetidas à superposição de Procrustes, e os dados foram analisados por ANOVA no pacote geomorph, considerando grupo, indivíduo e lado como fatores. Testes de Dunn foram usados para comparações par a par entre os grupos. Conforme esperado, a AF foi significativamente maior em F1 do que nos demais grupos, sugerindo impacto da transição ambiental e posterior adaptação (sem diferenças entre F10, F31 e os grupos de campo). Também conforme esperávamos, a AD reduziu em intensidade de F10 para F31, mas com nova mudança na direção, indicando que o processo ainda não estava completamente canalizado em F10. Estudos com mais linhagens e gerações permitirão avaliar a generalidade dos achados e estimar o tempo necessário até o estabelecimento de nova canalização do desenvolvimento. |