| Resumo |
As perdas e desperdícios de produtos vegetais frescos são um desafio complexo ao desenvolvimento sustentável, afetando as dimensões econômica, social e ambiental dos sistemas alimentares. A persistência dessas perdas reflete ineficiências produtivas, desigualdades no acesso ao alimento, na circulação do conhecimento e na formulação de políticas públicas eficazes e o alcance das metas da agenda 2030. A distribuição da produção científica sobre perdas e desperdícios de produtos vegetais frescos é desigual entre regiões e instituições, refletindo assimetrias estruturais na geração e circulação do conhecimento, podendo estar associadas a contextos socioeconômicos e à capacidade institucional local. O objetivo foi mapear lacunas e concentrações da produção científica, analisando fluxos de informação e conexões entre localidades, instituições e autores do tema. Buscas estruturadas foram realizadas nas bases Web of Science, EMBASE e PubMed, sem restrições de idioma ou período, com critérios rigorosos de inclusão e exclusão. A análise espacial e das redes de coautoria foi conduzida com suporte do georreferenciamento no software QGIS e triangulação entre autores. Identificaram-se 2.225 registros, com exclusão de 460 duplicatas. Após triagem e leitura na íntegra, 37 estudos foram incluídos, com dados quantitativos sobre perdas e desperdícios de produtos vegetais frescos destinados ao consumo humano, também identificando causas ou fatores associados. Esses estudos abrangem 25 países, com maior frequência no Brasil (n=4), Paquistão (n=3) e África do Sul (n=3), seguidos por China, Etiópia, Polônia, Reino Unido e Austrália (n=2 cada). Os demais países contribuíram com um artigo. A Europa concentrou a maior parte da produção científica (29,8%), com foco no desperdício. A Ásia respondeu por 21,7%, abordando perdas pós-colheita. As Américas representaram 18,9%, com o Brasil responsável por 57,1% dos estudos da região. A América do Norte teve apenas um estudo. A África também contribuiu com 18,9%, destacando-se África do Sul (n=3) e Etiópia (n=2). A Oceania teve a menor participação (5,4%). As redes de coautoria revelaram fragmentação e baixa articulação internacional, com conexões locais ou bilaterais predominantes. A estrutura espacial da pesquisa mostra “ilhas acadêmicas” com alta densidade local e fraca interconexão entre si. No Paquistão, observou-se um cluster localmente denso, porém isolado globalmente. O Brasil apresentou dois núcleos científicos (Sudeste e Nordeste) sem colaboração entre si. A África do Sul tem um polo consolidado em pesquisas sobre pós-colheita de romã, mas ainda isolado. Colaborações mais amplas foram raras e concentradas em países centrais com poucos autores atuando como "brokers epistemológicos". Conclui-se que a produção científica sobre perdas e desperdícios vegetais é geograficamente desigual e epistemologicamente assimétrica, comprometendo a construção de políticas públicas eficazes e o alcance das metas da Agenda 2030. |