| Resumo |
Introdução: As altas coberturas vacinais são pilares essenciais da saúde pública pediátrica, especialmente no primeiro ano de vida, quando o sistema imunológico infantil ainda está em formação. No entanto, o Brasil tem enfrentado uma redução sistemática na cobertura de vacinas infantis nos últimos anos, agravada por fatores como hesitação vacinal, falhas logísticas e desinformação. Tal cenário ameaça o controle de doenças antes erradicadas e impõe novos desafios à prática pediátrica cotidiana. Objetivos: Analisar as tendências temporais da cobertura vacinal no Brasil entre 2014 e 2023 para crianças até 1 ano de idade, com foco nas principais vacinas do calendário básico infantil e na dTpa em gestantes, discutindo implicações clínicas para a pediatria. Metodologia: Trata-se de um estudo ecológico, com abordagem quantitativa, utilizando dados agregados do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), obtidos via DATASUS. Foram analisadas as médias nacionais anuais das vacinas BCG, Hepatite B (30 primeiros dias), Pentavalente, Poliomielite, Tríplice Viral (D1) e dTpa gestante. A análise foi conduzida no SPSS® 27.0, com cálculos de média e desvio padrão, análise de tendência por regressão linear e remoção de dados inconsistentes acima de 100%. As vacinas com tendência negativa estatisticamente significativa foram destacadas. Resultados: Todas as vacinas analisadas apresentaram médias nacionais inferiores à meta estipulada pelo Ministério da Saúde. A cobertura média da Hepatite B foi de 80,8%, da Pentavalente 83,6%, da Poliomielite 85,0% e da Tríplice Viral 87,6%. A BCG apresentou 88,0% de média, enquanto a dTpa gestante ficou com apenas 43,4%. Após o ano de 2016, observou-se queda crítica em praticamente todos os imunizantes, com maior impacto nos anos da pandemia. A dTpa gestante, apesar de tendência crescente, permanece muito abaixo do ideal, comprometendo a imunidade passiva dos recém-nascidos. Conclusões: Os dados nacionais revelam uma preocupante estagnação ou queda na cobertura vacinal infantil no Brasil ao longo da última década, com valores abaixo das metas em todos os imunizantes analisados. O cenário preocupa pediatras e gestores, pois aumenta o risco de reintrodução de doenças como coqueluche, sarampo e poliomielite, sobretudo em populações infantis não vacinadas. A prática clínica pediátrica deve incorporar estratégias de educação parental, combate à hesitação vacinal e reforço constante da importância das vacinas nas consultas de rotina. É papel do pediatra atuar não apenas como prescritor de imunizações, mas como agente ativo na reconstrução da confiança da sociedade no Programa Nacional de Imunizações, contribuindo para a retomada das altas coberturas vacinais e proteção coletiva. |