| Resumo |
A obesidade é uma condição multifatorial, frequentemente associada a alterações na saúde mental, comportamento alimentar e sono. Em mulheres, esses fatores se tornam ainda mais complexos em virtude do estigma social e pressão por padrões de beleza. Investigar e compreender como esses fatores se inter-relacionam pode contribuir para o desenvolvimento de estratégias de cuidado à saúde de mulheres em situação de obesidade que sejam mais eficazes e integradas à Atenção Primária à Saúde. O objetivo deste estudo foi analisar correlações entre os aspectos emocionais (estresse, ansiedade e depressão), qualidade do sono e comportamento alimentar em mulheres com obesidade acompanhadas na Atenção Primária à Saúde de Viçosa-MG. Trata-se de um estudo transversal realizado com 109 mulheres adultas com obesidade (IMC ≥ 30kg/m²), residentes em território de atuação da Atenção Primária à Saúde de Viçosa-MG. Este estudo é parte integrante de um estudo randomizado, realizado em 2023. Foram utilizados os seguintes instrumentos validados: Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI), Hospital Anxiety and Depression Scale (HAD), Inventário de Sintomas de Estresse de Lipp (ISSL) e o Dutch Eating Behaviour Questionnaire (DEBQ), que avalia os domínios de comer emocional, comer externo e restrição alimentar. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa, sob parecer nº 5.693.565/2022. As análises estatísticas foram conduzidas no software Stata, versão 19.0, utilizando o teste de correlação de Spearman, com nível de significância de 5%. O estresse correlacionou-se fortemente com a ansiedade (ρ = 0,5295; p < 0,001) e de forma moderada com a depressão (ρ = 0,3726; p < 0,001). A pior qualidade do sono correlacionou-se moderadamente com níveis elevados de estresse (ρ = 0,3855; p < 0,001), ansiedade (ρ = 0,4807; p < 0,001) e depressão (ρ = 0,3798; p < 0,001). O comer emocional também apresentou correlação moderada com estresse (ρ = 0,3916; p < 0,001) e ansiedade (ρ = 0,3128; p = 0,0009), e fraca com depressão (ρ = 0,2366; p = 0,013), sugerindo influência de estados emocionais no comportamento alimentar. O comportamento alimentar de ingestão externa apontou correlação fraca com estresse (ρ = 0,2514; p = 0,0084) e ansiedade (ρ = 0,2102; p = 0,0283). Dessa forma, níveis elevados de estresse, ansiedade e depressão, ou seja, o sofrimento emocional, está significativamente associado à pior qualidade do sono e a comportamentos alimentares disfuncionais em mulheres com obesidade. Tais achados reforçam a importância de abordagens integradas na Atenção Primária à Saúde para o cuidado de mulheres com obesidade, contemplando os fatores psicológicos, sociais e comportamentais de forma interconectada. |