| Resumo |
O estigma relacionado à obesidade retrata como o excesso de tecido adiposo é considerado uma condição inadequada ao padrão corporal socialmente estabelecido. Assim, pessoas com excesso de peso podem internalizar crenças/imagens negativas e apresentar sentimentos de culpa e vergonha do corpo, autodepreciação, desesperança, isolamento social e baixa autoestima. O tratamento da obesidade no modelo biomédico não aborda as demandas emocionais e sociais, sendo necessário buscar estratégias que envolvam a redução da estigmatização e o acolhimento das demandas psicossociais. Nesse contexto, a arteterapia surge como potencial ferramenta ao favorecer expressões do consciente e do inconsciente e interligar a saúde física e mental. Explorar a percepção de mulheres com obesidade sobre o próprio corpo e como seus afetos interferem na alimentação. Entre março e setembro de 2023, foram realizadas oficinas nutricionais com abordagem multicomponente para mulheres com obesidade em Viçosa, MG. Ocorreram 6 encontros mensais, conduzidos por nutricionistas, com duração média de 1h30 e 10 participantes por grupo. A oficina foi aplicada em 3 grupos. Este trabalho trata-se de um recorte, evidenciando a terceira oficina, cujo objetivo foi estimular reflexões acerca da percepção corporal e o modo de se alimentar. Usou-se a técnica do desenho e da leitura corporal. Cada participante foi convidada a desenhar partes do próprio corpo com as quais se sentisse desconfortável. Depois, foi pedido que o transformassem livremente em algo novo, explorando a ressignificação do mesmo e da percepção corporal. Realizou-se observação participante e registro em diário de campo. Estes foram analisados com base na análise de conteúdo temática de Bardin e Minayo. Participaram 29 mulheres e a partir da análise dos dados emergiram 3 categorias: 1) “O olhar sobre si e os afetos no contexto alimentar”: revelou percepções negativas sobre o próprio corpo e sentimentos de tristeza, ódio e vergonha em relação a partes específicas do corpo, como seios, barriga, pernas e braços. Sentimentos como ansiedade e tristeza reverberaram nas escolhas alimentares levando a episódios de comer emocional, sentimento de culpa e medo de engordar; 2) “Estratégias de enfrentamento”, evidenciou estratégias adotadas pelas mulheres para minimizar o comer emocional, como se ocupar com outras atividades além do comer; 3) “Desenhando sob um novo olhar”: a recriação dos desenhos permitiu reflexões acerca da autoaceitação, autoestima e ampliação do olhar para si mesmas, com mais autocompaixão e resiliência. A oficina favoreceu reflexões sobre a percepção corporal de mulheres com obesidade, convidando-as a olharem para si mesmas de forma mais acolhedora e com autoaceitação. Os resultados ressaltaram a potência de espaços coletivos como estratégias de cuidado ampliado em saúde, promovendo ressignificações sobre o corpo e alimentação, que transcendem os limites tradicionais da abordagem nutricional. |