| Resumo |
O Programa de Educação Tutorial Educação: Conexões de Saberes (PET/EDU) realizou um debate com base no filme “Que horas ela volta?” (2015), dirigido por Anna Muylaert. O filme, reconhecido por sua crítica social, retrata as desigualdades estruturais presentes na sociedade brasileira, por meio da trajetória de Val, uma empregada doméstica nordestina que trabalha e reside na casa de uma família de classe média alta na cidade de São Paulo. A chegada da filha de Val, a Jéssica, que se muda para a capital paulista para prestar vestibular, provoca tensões na rotina do lar, colocando em risco as hierarquias da casa. O incômodo da família paulista diante da presença de Jéssica, expõe o desconforto daqueles que percebem seus privilégios ameaçados. A personagem protagonista Val, vivencia ao longo da narrativa diversas formas de violência simbólica, descrita por Pierre Bourdieu como uma forma de opressão sutil, que atua por meio de normas e práticas cotidianas internalizadas, naturalizando as desigualdades e reafirmando estruturas históricas de dominação. Nesse sentido, o objetivo principal do debate foi oferecer aos participantes um espaço de reflexão crítica sobre questões centrais abordadas no enredo do filme, tais como os conflitos intergeracionais, a vivência da maternidade por mulheres em situação de vulnerabilidade social, as relações de poder atravessadas por gênero e classe, e, sobretudo, a persistente desigualdade social no Brasil. Para auxiliar a discussão, foram selecionadas cenas emblemáticas da obra, como o momento da chegada de Jéssica à casa dos patrões de sua mãe, a cena em que Val é excluída da mesa de café da manhã e a marcante cena em que Val, em um gesto simbólico de liberdade, entra na piscina dos "patrões". Durante a exibição, as cenas eram pausadas estrategicamente, permitindo que os participantes da oficina relacionassem as cenas do filme às questões sociais concretas. Dessa forma, esse formato favoreceu um debate dinâmico e participativo, aberto ao público universitário, que estimulou reflexões sobre temas como mobilidade social, pertencimento, limites da servidão contemporânea e as sutis formas de manutenção das desigualdades no cotidiano. A oficina de debate sobre o filme “Que horas ela volta?” foi uma oportunidade de análise crítica sobre as estruturas sociais que sustentam a desigualdade no Brasil, especificamente, sobre os desafios das camadas populares de ingressarem na Educação Superior. A oficina provocou reflexões acerca das relações de poder, da condição da mulher pobre e nordestina, e dos limites impostos pela hierarquização social ainda vigente. Assim, o formato adotado, com pausas e discussão coletiva, permitiu que os participantes não apenas interpretassem o enredo, mas também relacionassem suas experiências e percepções à realidade social. |