| Resumo |
INTRODUÇÃO: A obesidade e o sobrepeso podem se apresentar em distintos perfis metabólicos, classificados como metabolicamente saudáveis ou não saudáveis, a depender da presença de alterações como dislipidemia, hipertensão e hiperglicemia. A gordura troncular, por refletir maior acúmulo de tecido adiposo visceral, contribui para um perfil cardiometabólico mais desfavorável, reduzindo a probabilidade de um fenótipo metabólico saudável. OBJETIVO: Investigar a relação entre a gordura troncular, antropometria, perfil lipídico e glicêmico, e o fenótipo metabólico em adultos com excesso de peso e obesidade participantes do Estudo Castanhas Brasileiras. METODOLOGIA: Estudo transversal com dados basais das três fases do Estudo Castanhas Brasileiras, incluindo 125 mulheres (32,2±8,3 anos; IMC: 34,1±4,5 kg/m²). Os estudos foram aprovados pelo Comitê de Ética (CEP/UFV) (2.832.601, 3.649.033 e 4.543.541) e registrado no ReBEC (RBR-3ntxrm, RBR-8zfn5c e RBR-8xzkyp2). O percentual de gordura troncular foi categorizado pelo percentil 50 (53,47%). O fenótipo metabólico foi classificado como saudável ou não saudável com base em glicemia de jejum (≥100 mg/dL), triglicerídeos (≥150 mg/dL) e/ou pressão arterial (≥130/85 mmHg). Foram analisadas variáveis antropométricas, pressão arterial, perfil lipídico e glicêmico. A normalidade foi testada por assimetria, curtose, gráficos e teste de Kolmogorov-Smirnov. Comparações entre grupos utilizaram o teste t de Student, e a associação com o fenótipo metabólico foi avaliada por regressão logística binária, com e sem ajuste por idade. As análises foram conduzidas no SPSS v.26, adotando-se nível de significância de 5%. RESULTADOS: Indivíduos com gordura troncular ≥ P50 apresentaram maior idade (29,5±7,2 vs. 34,9±8,5; p<0,001), glicemia de jejum (95,0±19,3 vs. 107,1±40,7; p=0,037), triglicerídeos (103,3±37,6 vs. 133,4±73,3; p=0,005), VLDL (20,7±7,5 vs. 26,7±14,7; p = 0,005) e pressão arterial diastólica (75,5 ± 7,5 vs. 80,5±11,0; p=0,004), em comparação àqueles com menor percentual de gordura troncular, além de menor circunferência do quadril (119,2±8,1 vs. 115,7±9,2; p=0,027). Esses indivíduos tiveram 55% menos chance de apresentar o fenótipo metabólico saudável (OR=0,45; p=0,026), mas essa associação perdeu significância após ajuste por idade (OR=0,60; p=0,187), que se manteve associada ao desfecho (OR=1,06; p=0,013). CONCLUSÃO: Indivíduos com maior percentual de gordura troncular apresentaram piores desfechos metabólicos e menor prevalência do fenótipo metabólico saudável. Embora a associação entre gordura do tronco e o fenótipo metabólico tenha perdido significância após ajuste por idade, a idade se manteve como um fator significativamente associado, sugerindo que parte da influência da gordura troncular sobre o risco metabólico pode ser mediada pelo envelhecimento. Esses achados destacam a relevância da distribuição da gordura corporal, especialmente na região troncular, na avaliação do risco cardiometabólico. |