| Resumo |
A família Potamotrygonidae engloba duas subfamílias de arraias peçonhentas: Styracurinae, composta por arraias marinhas; e Potamotrygoninae, composta pelas arraias dulcícolas neotropicais, frequentemente associadas a acidentes com humanos. Dentre as arraias de água doce, a espécie Potamotrygon amandae Loboda & Carvalho, 2013 é nativa do rio Paraguai e da região do Baixo rio Paraná, com registros de introdução no Alto rio Paraná à jusante da barragem da UHE Ilha Solteira, consequência da inundação de barreiras naturais de dispersão no sistema de cachoeiras de Sete Quedas. Apesar de comuns no Neotrópico, não há registros de arraias dulcícolas em unidades geradoras (UGs) de usinas hidrelétricas. Dada a importância médica e ecológica de P. amandae, o presente estudo tem os objetivos de relatar a presença da espécie em uma UG, discutir as implicações da sua presença durante a realização de resgates de peixes em UGs para a segurança da equipe responsável e da expansão de sua ocorrência na região do Alto rio Paraná para o ecossistema local. O resgate de peixes foi realizado em uma das UGs de uma usina hidrelétrica no Rio Verde, afluente do rio Paraná. Abundância e biomassa relativas das arraias foram calculadas com base no valor do parâmetro para a espécie-alvo dividido pelo valor do parâmetro para o total de espécies. Ao todo, foram amostrados 10 indivíduos, com biomassa total de 60,57 kg, correspondendo a uma abundância relativa de 0,46% e uma biomassa relativa de 5,84%. A espécie apresentou o terceiro maior valor de abundância e biomassa dentro da assembleia de peixes capturados, composta por 2192 espécimes de 20 espécies. Este resultado representa o primeiro registro de Potamotrygonidae em unidades geradoras de energia hidrelétrica e a expansão da ocorrência de P. amandae na região do Alto rio Paraná. A expansão da distribuição da espécie na região, facilitada pela baixa ocorrência de seus predadores naturais, ameaça a comunidade de peixes autóctones, outrora ameaçada pelo estabelecimento de outras espécies introduzidas como a corvina (Plagioscion squamosissimus), que apresentou uma biomassa relativa de 31,56% nesse resgate e compôs mais de 90% da biomassa amostrada em dois resgates anteriores. Ademais, as ações de resgate possuem protocolos de segurança que incluem equipamentos de proteção individual (EPIs) e procedimentos de manejo correspondentes às necessidades geradas pelas assembleias de peixes usualmente capturadas. A adição de P. amandae na assembleia leva à necessidade de adequação dos protocolos para o manejo seguro dos peixes. A lista de EPIs utilizados durante procedimentos padrões de resgate geralmente não inclui luvas de aço e calçados resistentes ao ferrão, que devem ser adicionados. Dados os potenciais riscos médicos e ecológicos gerados pela introdução de P. amandae no Alto rio Paraná, são necessários estudos sobre o estabelecimento da espécie na região e seus impactos no ecossistema. |