| Resumo |
A diversidade funcional é uma ferramenta utilizada para avaliar ecossistemas com base nas funções das espécies presentes, e não apenas em sua ocorrência. Em peixes, a morfometria é amplamente empregada para medir essa diversidade, pois permite inferir características ecológicas por meio de traços. Os traços são características morfofisiológicas que afetam a aptidão das espécies indiretamente, por meio de seus efeitos sobre o crescimento, a reprodução e a sobrevivência. Utilizar os traços para identificar espécies com funções raras, que não são desempenhadas por outras, é útil para orientar a conservação, por meio da avaliação da originalidade e singularidade funcional. O objetivo do trabalho foi avaliar a singularidade e a originalidade de espécies nativas e não-nativas do Alto Paraná. Foram analisados peixes das coleções ictiológicas da UNESP e UEMG, com indivíduos coletados em duas sub-bacias: Turvo Grande e São José dos Dourados (São Paulo). Mediram-se de cinco a 30 indivíduos por espécie e 16 traços morfofuncionais. A análise de coordenadas principais (PCoA) foi utilizada para estimar a originalidade (OR), como a distância euclidiana à posição média do conjunto de espécies, e a singularidade (SIN), como a distância ao vizinho mais próximo no espaço funcional. No total, foram avaliadas 10 espécies sendo cinco nativas e cinco não nativas. Os dois primeiros eixos do PCoA explicaram 60,86% da variância entre as espécies analisadas. A OR mostrou que, em ordem, os Cyprinodontiformes são os que apresentam maior originalidade em geral, seguidos pelos Siluriformes entre as nativas e pelos Cichliformes entre as não nativas. As espécies que apresentaram maior singularidade foram M. pictus, P. reticulata e A. fuscoguttatus. A SIN também apresentou resultados semelhantes aos da originalidade, sendo as espécies do grupo Cyprinodontiformes as mais singulares, especialmente a espécie nativa M. pictus. As menos singulares foram P. fasciatus e K. moenkhausii. Neste caso, ficou evidente que não necessariamente as espécies nativas são originais ou singulares, mas isso depende da função que desempenham e de como a forma do corpo está adaptada ao habitat. Ao analisar indivíduos das espécies, observa-se que há variação entre eles, sendo que os Cyprinodontiformes e os Siluriformes apresentam variações mais significativas. Isso indica uma maior variação a nível funcional, relacionada à morfologia corporal. É fundamental avaliar essas espécies para proteger os habitats das nativas e compreender o papel das não nativas, além de identificar quais poderiam ser substituídas, caso fosse viável, uma vez que, neste momento, todas estão cumprindo uma função específica em cada local que habitam. |