| Resumo |
O presente trabalho propõe uma investigação teórica e analítica sobre o gênero fantástico na literatura, tomando como base a concepção desenvolvida pelo reconhecido pesquisador espanhol David Roas em Teorías de lo Fantástico (2001). O estudo parte da constatação de que o fantástico é um gênero de definição complexa, por transitar entre diferentes abordagens teóricas, baseadas em questões tanto de ordem ontológica quanto narrativa, o que torna sua delimitação conceitual um desafio constante. Assim, a partir do diálogo crítico de Roas no capítulo “La amenaza de lo fantástico” com autores como Tzvetan Todorov, Rosemary Jackson, Rosalba Campra, Susana Reisz e Jean Bellemin-Noël, mas também considerando as características que definem a corrente literária conhecida como Realismo Mágico ou Realismo Maravilhoso, nosso objetivo é aproximarmo-nos de uma definição do gênero fantástico, sistematizar as conclusões de Roas e testá-las na análise de quatro contos de quatro autores latino-americanos do século XX. Roas defende que o surgimento do gênero remonta ao século XVIII, em um contexto marcado pelo avanço da racionalidade e da ciência, que transfere o sobrenatural do mundo real para o universo ficcional. A partir dessa hipótese, o fantástico na literatura passaria a operar como uma estratégia narrativa que instaura uma ruptura com o real, provocando inquietação e incerteza no leitor diante do insólito, ameaçando suas certezas em relação ao demonstrável cientificamente. Segundo Roas, sua função continua sendo, ainda hoje, a de revelar os abismos do desconhecido, tanto internos como externos ao sujeito. No contexto latino-americano, a literatura fantástica começa a ganhar relevância a partir da década de 1930, influenciada pelas tradições europeias do Romantismo e do Modernismo, com destaque para Jorge Luis Borges e Julio Cortázar, embora autores anteriores, como Rubén Darío, também tenham explorado o gênero. A partir da década de 50 surgirá no continente uma corrente narrativa que receberá o nome de Realismo Mágico ou Maravilhoso, problematizando a noção de fantástico, na qual Gabriel García Márquez foi um dos maiores expoentes. Metodologicamente, nossa pesquisa procede aplicando as características que definem o fantástico segundo Roas e avalia sua funcionalidade ou não no corpus composto pelos contos “El caso de la señorita Amelia”, de Rubén Darío, “El otro”, de Jorge Luis Borges, “Monólogo de Isabel viendo llover en Macondo”, de Gabriel García Márquez e “Axolotl”, de Julio Cortázar. Se faz necessário ressaltar que o presente trabalho ainda se encontra na fase inicial e, no momento, não há como apresentar conclusões. |