| Resumo |
Introdução: Em meados do seculo XX, o Comitê Olímpico Internacional (COI) começou a cultivar relações diplomáticas com a Organização das Nações Unidas (ONU). Essa aproximação se tornou significativamente expressiva nos anos 1990, fortalecendo-se ainda mais no seculo XXI, quando o COI se tornou Observador Permanente da Assembleia Geral da ONU. Em 2021, durante o mandato do ex-presidente Thomas Bach, o COI estabeleceu uma política institucional chamada Agenda Olímpica 2020+5, sucessora da Agenda Olímpica 2020 — lançada em 2014. Assim como sua antecessora, essa Agenda se aproxima discursivamente de políticas da ONU, especialmente a Agenda 2030 para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) — de 2015. Objetivo: Considerando a pouca atenção dada a dimensão discursiva das recentes políticas institucionais do COI, no âmbito de trabalhos desenvolvidos nacional e internacionalmente, este estudo teve, como objetivo principal, analisar os discursos presentes nos documentos da Agenda Olímpica 2020+5. Metodologia: O presente estudo se caracteriza como qualitativo, com fonte primaria, de dados documentais. O corpus empírico foi construído com documentos do site oficial do COI. Foram catalogados trechos introdutórios e das recomendações 1, 10, 13 e 14 da Agenda Olímpica 2020+5. Os dados foram tratados pela análise de discurso. Resultados: Dentro do corpus empírico analisado, foram encontrados diferentes enunciados que compõem a construção discursiva da Agenda Olímpica 2020+5. Foi perceptível que o COI cooptou pautas sociais globais emergentes, como sustentabilidade, igualdade de gênero e direitos humanos, para fortalecer a retórica de que o Movimento Olímpico possui alto valor na sociedade. Notou-se também o alto prestígio que a ONU possui nas narrativas da Agenda, com os ODS sendo utilizados como instrumento para fortalecer a ideia de que o COI deve intervir na esfera social. Evidenciou-se que políticas institucionais como a Agenda Olímpica 2020+5, bem como sua antecessora, respondem à crise política que o COI vem atravessando no seculo XXI. Esse fator foi mascarado com uma narrativa que desviou o foco para a COVID-19, apontando para a necessidade de atuação social do COI por conta das consequências da pandemia. Por fim, ressalta-se que a Agenda Olímpica 2020+5, além de trazer novas narrativas como o diálogo com pautas sociais e digitalização, não renuncia a antigos enunciados, como a ideia de universalidade do Movimento Olímpico, presente desde os primórdios dos Jogos Olímpicos Modernos e que, aqui, ganha nova roupagem. Conclusões: Para futuras pesquisas, é importante que se invista em análises mais minuciosas de cada enunciado que compõe a Agenda Olímpica 2020+5. Também será primordial que se observe como a transição de gestão do COI — que a partir de 2025 passou a ser liderado pela africana Kirsty Coventry — influenciará nas políticas institucionais da organização. |