| Resumo |
O debate sobre mudança climática em aulas de Economia para estudantes de graduação em Ciências Agrárias favorece a articulação entre teoria e realidade. Os conceitos econômicos podem ser abordados a partir de situações concretas da agropecuária, evidenciando seu papel tanto como causadora quanto como setor impactado pelo clima em mudança. Nesta pesquisa analisamos as concepções dos estudantes sobre os efeitos combinados da inovação tecnológica e da mudança climática sobre a oferta e os preços de alimentos. O corpus foi composto por 228 respostas discursivas, coletadas em avaliações aplicadas entre 2024 e 2025 na disciplina Economia Rural (ERU 300), oferecida na Universidade Federal de Viçosa. As respostas foram analisadas segundo a Análise de Conteúdo proposta Laurence Bardin, com foco nas concepções sobre tecnologia, clima e preços agrícolas. Identificamos quatro categorias: 1. “pessimismo climático” (52% da amostra), caracterizado pela percepção de que os impactos da mudança climática serão mais fortes e mais rápidos do que a capacidade de resposta da tecnologia, levando a perdas produtivas e aumento de preços; 2. “realismo condicional” (21%), que reúne estudantes que avaliam que os desdobramentos futuros dependerão da intensidade relativa entre o avanço tecnológico e o agravamento da mudança do clima, reconhecendo múltiplos cenários possíveis; 3. “otimismo tecnológico” (18%), associado à crença de que os avanços da ciência e da tecnologia têm potencial para superar os efeitos negativos provocados pelo clima; 4. “visão sistêmica crítica” (9%), composta por respostas que demonstram compreensão articulada da relação entre clima e tecnologia, incorporando também fatores estruturais como desigualdade social, políticas públicas, acesso a recursos e dinâmicas globais de produção e consumo. Esse resultado revela que os estudantes mobilizam diferentes níveis de complexidade ao articular inovação tecnológica e mudança climática, o que tem implicações diretas para a formação no campo das ciências agrárias. A predominância de percepções de risco indica a necessidade de aprofundar as discussões sobre adaptação no setor agropecuário. A crença no progresso tecnológico é expressiva, mas essa visão não é dominante, como às vezes se supõe no discurso público sobre o agronegócio. Isso mostra que há percepção dos limites ou condicionantes para a eficácia da tecnologia. A perspectiva crítica e estruturada, para além da dicotomia clima x tecnologia, mostra que os estudantes enxergam o agronegócio como parte de um sistema socioeconômico complexo. Estimular essa visão pode favorecer a formação de profissionais mais engajados com a resposta aos desafios climáticos. De modo geral, esta pesquisa indica que a educação superior precisa reconhecer e dialogar com visões diversas, promovendo formação crítica, integração entre saberes e discussões que incentivem ações concretas no enfrentamento dos impactos do clima no setor agropecuário e no papel deste na mudança climática. |