| Resumo |
A pesquisa proposta investiga a depreciação de variedades não cultas em comentários de uma publicação da rede social Instagram, que alcança 140 ,7 milhões de brasileiros. Alicerçada na Sociolinguística, que compreende língua e sociedade como instâncias indissociáveis, e na Análise do Discurso Digital, atenta ao papel do design das plataformas, pergunta‑se: de que modos o preconceito linguístico emerge nos comentários de uma postagem que convida usuários a apontar “erros de português” que os irritam? Como objetivo geral, espera-se compreender como o preconceito linguístico se manifesta nesses comentários. Já os objetivos específicos são: 1) mapear e classificar ocorrências conforme o fenômeno de variação e a concepção gramatical acionada; 2) explicar linguisticamente os supostos erros listados; 3) relacionar os ataques a identidades sociais estigmatizadas; 4) avaliar o impacto do design do Instagram na circulação dessas falas; 5) discutir como a consagração de uma única variedade legitima hierarquias regionais e sociais. A metodologia baseia-se em estudo de caso qualitativo, de caráter indutivo. O corpus reúne 273 comentários públicos dirigidos à postagem de 9 março de 2024 do perfil maranhense @irmandadetuntum, que tem aproximadamente 85 mil seguidores. As interações, capturadas por screenshots, restringem‑se a respostas diretas ao post. Primeiramente, os dados serão organizados nas quatro categorias de comentários propostas por Paveau (2021): relacional, conversacional, deslocado, compartilhamento. Depois, microanálises sociolinguísticas considerarão fatores internos (fonético‑morfossintáticos) e externos (classe, gênero, raça, origem, estilo) para interpretar como tais discursos reforçam ou contestam estigmas. Os resultados esperados são: a) ampliar o acervo de discussões sobre preconceito linguístico em mídias digitais; b) mapear representações nordestinas que desconstroem o mito de um “português superior”; c) desnaturalizar juízos prescritivos, demonstrando como a rejeição recai sobre o falante, não sobre a estrutura; d) evidenciar como concepções tradicionais são mobilizadas em modalidade on‑line para reforçar estereótipos; e) articular Sociolinguística e Discurso Digital para elucidar a relação entre língua, identidade e poder simbólico. Em termos de conclusão, supomos que o debate público no Instagram revela amplas brechas para a reprodução do preconceito linguístico, pois associa “erro” a grupos historicamente marginalizados e sustenta hierarquias sociais que extrapolam o ambiente virtual. |