| Resumo |
A busca por alternativas à castração cirúrgica tem impulsionado o desenvolvimento de métodos de esterilização química que sejam seguros, eficazes e de baixo custo. A administração de substâncias esclerosantes diretamente no epidídimo desponta como uma abordagem promissora, dado o papel central desse órgão na maturação, armazenamento e transporte dos espermatozoides. O eugenol, principal composto fenólico do óleo de cravo-da-índia (Syzygium aromaticum), apresenta atividade antioxidante em baixas concentrações, mas efeitos citotóxicos em concentrações mais elevadas. No presente estudo, avaliou-se potenciais efeitos agudos da aplicação intraepididimária de eugenol sobre a histologia do epidídimo. Para isso, 20 ratos Wistar machos, com 70 dias de idade, foram distribuídos em quatro grupos (n = 5/grupo): um grupo controle, sendo administrada uma única injeção epididimária bilateral do veículo (Tween 20 a 2%), e três grupos experimentais, compreendendo uma única injeção, bilateral, de eugenol nas concentrações de 2,5, 5 e 50 mg. Todas as soluções foram diluídas em volume final de 50 µL e aplicadas diretamente na cabeça do epidídimo. Os ratos foram eutanasiados 15 dias após a aplicação (CEUA/UFV nº 35/2023). Os epidídimos foram coletados, fixados em solução saturada de Bouin por 24 horas, desidratados em série crescente de etanol e incluídos em parafina. Cortes histológicos com 5 µm de espessura foram corados com hematoxilina-eosina e analisados em microscópio óptico para avaliação qualitativa das alterações histológicas. Em ratos do grupo controle, o epidídimo apresentou arquitetura tecidual preservada, com epitélio pseudoestratificado bem-organizado, lúmen preenchido por espermatozoides e estroma conjuntivo sem sinais inflamatórios. Em ratos submetidos à aplicação de eugenol, independentemente da concentração, observou-se alterações histológicas marcantes, incluindo necrose epitelial com desorganização celular, vacuolização citoplasmática, intenso infiltrado inflamatório composto por leucócitos polimorfonucleares, além de acúmulo de detritos celulares e células degeneradas no lúmen dos ductos epididimários. Apesar das lesões presentes em todos os ratos tratados com eugenol, a gravidade das alterações foi mais pronunciada naqueles que receberam 5 e 50 mg, evidenciada pelo colapso de ductos e início de encapsulamento fibrótico em algumas regiões. Pode-se concluir que a aplicação única intraepididimária de eugenol induziu alterações histológicas agudas, comprometendo a integridade estrutural do epidídimo. Esses achados reforçam o potencial do eugenol como agente esclerosante, indicando a necessidade de estudos adicionais para avaliar sua eficácia em estratégias não cirúrgicas de controle reprodutivo. |