| Resumo |
A aplicação direta de agentes químicos no epidídimo tem se mostrado uma abordagem promissora para o controle reprodutivo não cirúrgico, devido ao papel essencial deste órgão na maturação e no transporte espermático. O eugenol, principal composto fenólico do óleo de cravo-da-índia , apresenta atividade antioxidante em baixas concentrações, mas efeitos citotóxicos em concentrações mais elevadas. O presente trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos de uma única aplicação intraepididimária de eugenol sobre a integridade tecidual do epidídimo e a motilidade espermática. Para isso, dez ratos Wistar adultos foram anestesiados para a administração de uma única injeção na cabeça dos epidídimos de 50 µL contendo veículo (Tween 20 a 2%; grupo controle) e dez para injeção de 2,5 mg de eugenol. Cinco ratos de cada grupo foram eutanasiados após 30 e 60 dias da aplicação (CEUA/UFV nº 35/2023). Epidídimos direitos foram coletados, fixados em solução saturada de Bouin por 24 horas, desidratados em série etanólica e incluídos em parafina. Cortes histológicos de 5 µm das regiões da cabeça e cauda epididimárias foram corados com hematoxilina-eosina e analisados por microscopia de luz. Já a cauda dos epidídimos esquerdos foram colocadas sobre uma placa de Petri aquecida, contendo meio BWW, e cortadas para obtenção dos espermatozoides. Uma alíquota de 10 µl da solução foi colocada entre lâmina e lamínula e analisada em microscópio quanto a motilidade espermática (%; média, desvio padrão; P = 0,05). Os resultados mostraram que, aos 30 dias pós-aplicação, ratos controle apresentaram arquitetura epididimária preservada, com epitélio pseudoestratificado bem organizado, lúmen preenchido por espermatozoides e tecido conjuntivo íntegro. Ratos que receberam injeção intraepididimária de eugenol apresentaram necrose difusa dos ductos, perda da estrutura tubular, acúmulo de detritos celulares no lúmen e início de fibrose no estroma periductal. Não foram observados espermatozoides móveis nesses animais em contraste com os animais controle (85,0 ± 5,3%; p < 0,05). Aos 60 dias, a arquitetura tecidual das regiões epididimárias apresentou-se íntegra em ratos controle, enquanto que estas se apresentaram mais graves em ratos submetidos à injeção intraepididimária de eugenol, com deposição extensa de fibras colágenas, infiltrado leucocitário persistente e desorganização severa da estrutura tubular, especialmente na região da cabeça. Nestes animais, a motilidade espermática estava ausente (0,0%), enquanto os animais do grupo controle mantiveram valores preservados (84,67 ± 9,71%; p < 0,05). A administração intra epididimária única de eugenol na concentração de 2,5 mg provocou danos teciduais progressivos e potencialmente irreversíveis no epidídimo de ratos, com impacto sobre a motilidade espermática. Esses resultados reforçam o potencial do eugenol como agente esclerosante e apontam o epidídimo como alvo estratégico para práticas não cirúrgicas de controle reprodutivo. |