| Resumo |
Introdução: Tornar-se mãe é um processo marcado por rupturas identitárias e possibilidades de renascimento. Nesse percurso, é comum a vivência de sentimentos ambivalentes, que variam do encantamento à exaustão. Esse movimento é sustentado por fatores internos e externos, sendo profundamente influenciado pelo contexto social, pelo reconhecimento da nova função materna e pelas relações estabelecidas com o bebê e com as redes de apoio. Objetivo: Identificar os fatores associados à reconstrução da identidade materna no pós-parto. Metodologia: Trata-se de uma revisão narrativa da literatura. A pergunta de pesquisa formulada foi: “Quais fatores estão associados à reconstrução da identidade materna no pós-parto?”. As buscas foram realizadas nas bases eletrônicas PubMed, SciELO e Scopus, em português, inglês e espanhol, considerando publicações entre 2015 e 2025. A estratégia de busca combinou dois blocos conceituais: um relacionado à identidade/adaptação materna e outro ao período pós-parto, conectados por operadores booleanos AND e OR. Foram incluídos apenas artigos originais com acesso completo, sendo excluídos textos de revisão. Após triagem e eliminação de duplicatas, 19 artigos compuseram o corpus final de análise. Resultados: A reconstrução da identidade materna no pós-parto revelou-se um processo dinâmico, não linear e relacional. Vai além da presença de psicopatologias, como a depressão pós-parto, envolvendo também a vivência subjetiva da mulher diante das transformações de ser mãe em um novo contexto de vida. O apoio social emergiu como um eixo central, impactando diretamente o bem-estar psicológico e favorecendo a consolidação de uma identidade materna segura. A presença de suporte emocional, prático e afetivo — especialmente de parceiros, familiares e amigos — auxilia na legitimação da mulher em sua nova função, acolhendo suas inseguranças e compartilhando a carga do cuidado. Em contrapartida, a ausência ou fragilidade dessas redes acentua a vulnerabilidade psíquica, o sentimento de inadequação e o isolamento. O vínculo mãe-bebê destacou-se como componente fundamental, funcionando tanto como desafio quanto como oportunidade identitária. Dificuldades nesse vínculo, muitas vezes sustentadas por crenças distorcidas ou expectativas idealizadas da maternidade, podem comprometer esse processo e favorecer o distanciamento emocional da mulher em relação ao bebê e à própria experiência materna. Conclusão: A reconstrução da identidade materna no pós-parto é um fenômeno relacional, situado socialmente e atravessado por expectativas culturais, suporte (ou sua ausência), condições de vida e pela capacidade de alinhar valores pessoais às práticas maternas. Reconhecer a complexidade desse processo é essencial para o desenvolvimento de políticas e intervenções em saúde que considerem a pluralidade das experiências femininas, promovendo o acolhimento e a escuta qualificada das mulheres em sua transição para a maternidade. |