| Resumo |
INTRODUÇÃO: A vacinação infantil é uma das estratégias mais eficazes na redução da mortalidade e morbidade por doenças imunopreveníveis. Entretanto, na última década, o Brasil tem enfrentado desafios para atingir as metas de coberturas vacinais (CV), com declínio já evidente mesmo antes dos impactos intensificados pela pandemia de COVID-19 e, com isso, expondo a população infantil ao risco de reintrodução de doenças antes controladas. Nesse contexto, torna-se necessário compreender os padrões de imunização em diferentes territórios para subsidiar a formulação de políticas públicas mais eficazes e direcionadas às realidades locais. OBJETIVOS: Analisar a tendência temporal das coberturas vacinais de BCG, Hepatite B, Poliomielite, Pentavalente e Tríplice Viral em crianças menores de 1 ano na microrregião de saúde de Viçosa-MG, no período de 2014 a 2023. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo ecológico, com abordagem quantitativa, utilizando dados de cobertura vacinal do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI/DATASUS). As análises, estratificadas por localidade e ano, foram realizadas no SPSS (v.27.0), com apoio de Python para visualizações. Aplicou-se o teste de correlação de Pearson entre os anos, com apresentação dos resultados em matrizes de correlação. RESULTADOS: Observou-se uma tendência de declínio progressivo nas coberturas vacinais ao longo da década. A microrregião Viçosa apresentou redução significativa na CV das vacinas Tríplice Viral, Poliomielite e Pentavalente, principalmente a partir de 2015, com acentuadas quedas durante o período pandêmico (2020–2021). Os imunizantes Hepatite B e BCG não sofreram variações expressivas no período pré-pandêmico. No entanto, registraram-se as piores coberturas entre todas as vacinas em 2020 e 2021, com menos de 60% em 2021. Houve discreta recuperação em 2022 e 2023 nas taxas de todos os imunizantes, mas ainda insuficiente para se afirmar a retomada consistente das coberturas vacinais em relação aos padrões anteriores. Observou-se também inconsistências nos registros, especialmente em 2014, refletidas em CV maior que 100%, o que deve ser considerado na interpretação das tendências. CONCLUSÕES: Os resultados evidenciam um cenário de vulnerabilidade imunológica na infância, com coberturas vacinais aquém das metas preconizadas. Apesar de algumas oscilações positivas ao longo da década, a falta de manutenção consistente reforça a fragilidade do sistema local de imunização. A perpetuação das taxas, caso não apresentem tendência clara de recuperação, compromete progressivamente a imunidade coletiva e pode propiciar o retorno ainda mais evidente das doenças erradicadas. Reforça-se, portanto, a urgência de políticas públicas mais robustas voltadas à recuperação das coberturas vacinais infantis. |