| Resumo |
Este estudo tem como objetivo compreender de que maneira os mecanismos de governança da Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas do Bailique e Beira Amazonas (Amazonbai), no estado do Amapá, viabilizam a conciliação entre a expansão mercadológica da organização e a valorização da identidade territorial e cultural das comunidades associadas. Trata-se de uma questão central para pensar caminhos de desenvolvimento cooperativo na Amazônia, sendo o caso analisado reconhecido como uma experiência bem-sucedida, com potencial de gerar importantes aprendizados. A pesquisa possui abordagem qualitativa, de caráter exploratório e descritivo, com delineamento metodológico em estudo de caso. A coleta de dados envolveu análise documental de normativos institucionais e a realização de entrevistas semiestruturadas com membros da gestão (presidente e vice-presente), permitindo triangulação entre fontes e maior robustez analítica. A interpretação dos dados foi conduzida com base na técnica de Análise de Conteúdo Temática. Os resultados indicam que a Amazonbai opera sob um modelo de governança híbrida e policêntrica, que articula normas comunitárias, protocolos próprios e exigências de mercado. Destacam-se, entre os mecanismos institucionais, o Protocolo de Salvaguardas — voltado à proteção de crianças, idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade —, a existência de um Conselho Deliberativo com representação comunitária, a realização de assembleias presenciais precedidas de ampla mobilização local, e um sistema integrado de certificações que mobiliza articuladores comunitários para conectar as bases ao processo de validação externa. Soma-se a isso a previsão estatutária de um fundo que destina 5% das sobras líquidas anuais para investimentos em Escolas Famílias Agrícolas (EFAs), reforçando o compromisso da cooperativa com o desenvolvimento endógeno. Tais mecanismos expressam uma governança orientada simultaneamente pela valorização dos saberes tradicionais e por práticas de gestão profissional, fortalecendo a ação coletiva e assegurando que os benefícios gerados pela bioeconomia sejam apropriados pelas comunidades locais. A trajetória da Amazonbai evidencia a possibilidade de compatibilizar crescimento econômico com fortalecimento das bases sociais, mediante investimentos contínuos em educação, saúde e políticas inclusivas voltadas à participação de mulheres e jovens. Conclui-se que a experiência da Amazonbai constitui um modelo relevante de governança cooperativa adaptado à realidade amazônica, reafirmando o papel estratégico das cooperativas na construção de uma bioeconomia inclusiva, territorialmente ancorada e orientada pela justiça social. |