Resumo |
Neste trabalho propomos apresentar um recorte de nossa pesquisa de mestrado em andamento no PPGLET/UFV, na linha de pesquisa Estudos do Texto e do Discurso, cujo objetivo é analisar como os imaginários sociodiscursivos de crime e criminoso são mobilizados nas letras de rap do álbum Nada Como Um Dia Após o Outro Dia, lançado em 2002 pelo grupo de rap paulistano Racionais MC’s. Especificamente, nosso intuito é investigar como esse grupo, formado por pessoas da periferia, comumente alvo da política penal seletiva, significa a realidade que os circunscreve, particularmente no que se refere às ações socialmente consideradas desviantes. Parte-se do entendimento de que o rap, enquanto prática discursiva inserida em determinados contextos sociais, articula representações que revelam saberes, valores e crenças de determinado grupo marginalizado. Para embasar as discussões, utiliza-se como marco teórico-metodológico a Teoria Semiolinguística do Discurso, proposta por Patrick Charaudeau (2017; 2019). Essa teoria possibilita ao pesquisador investigar os aspectos sociodiscursivos que articulam a linguagem, os sujeitos e as condições de produção em se inserem as trocas comunicativas, buscando compreender as significâncias que emergem dessas interações. Charaudeau entende que todo ato de linguagem é uma encenação discursiva configurada em dois espaços, o do implícito e o do explícito. Ainda, no ponto de vista do autor, os sujeitos interagem nos discursos regidos por um contrato de comunicação, cujas regras e restrições orientam tanto a produção quanto a interpretação dos projetos de fala. Para subsidiar a compreensão das categorias sociais de crime e criminoso, recorre-se ao marco teórico da Criminologia Cultural, proposta por Jeff Ferrell e Clinton Sanders em 1995, segundo a qual as expressões urbanas culturais constituem meios para se analisarem a criminalidade (Furquim; Lima, 2015). Ferrell (2010) argumenta que a Criminologia Cultural possui uma abordagem voltada a investigações qualitativas, abarcando os significados intersubjetivos da transgressão e, por isso, propõe a ruptura com a “criminologia do tédio”, que compreende a criminalidade apenas por métodos estatísticos, defendendo, em contrapartida, metodologias diversas que considerem as aptidões do pesquisador. Por meio da investigação desenvolvida, espera-se fornecer contribuições de caráter interdisciplinar, para as áreas da Semiolinguística, da Criminologia e do Direito, a fim de aprofundar a compreensão do fenômeno criminal a partir de uma perspectiva discursiva. |