Resumo |
Financiada pela FAPEMIG, esta pesquisa analisa ensaios de historiografia da literatura publicados na imprensa acadêmica paulista entre os anos de 1847 e 1871 com o objetivo de mapear, segundo a concepção dos intelectuais da dita segunda geração romântica, parâmetros relativos à sistematização do exercício de escrita historiográfica voltado à literatura, dado que assim como a historiografia geral da nação, a história da literatura também contribuiu em grande medida para a construção de um discurso ideológico de reafirmação da identidade nacional num Brasil recém-independente. Todavia, apesar de massivamente estudados, os ensaios da imprensa paulista do décimo nono século não parecem ter sido lidos a partir desse recorte, o que não se sucede quando pensamos em ensaios da mesma espécie publicados no Rio de Janeiro. Portanto, com vistas a compreender em que medida as discussões de nossos homens de letras provincianos se aproximavam ou se afastavam do que circulava no centro político e administrativo da nação, os resultados deste estudo, além de analisados em função de si, foram também comparados às proposições expressas em artigos basilares publicados por intelectuais fluminenses, como o inaugural “Discurso sobre a história da literatura do Brasil” (1836), de Gonçalves de Magalhães. Desse modo, através da leitura do corpus à luz de determinado arcabouço teórico, foram mapeados os seguintes parâmetros: quando se inicia a literatura brasileira; quais as épocas de sua periodização; se ela emerge autônoma ou como reflexo dos insumos literários do Velho Mundo; quais os autores mais proeminentes em número de menções no discurso da intelectualidade romântica; e quais os métodos subjacentes ao exercício de escrita historiográfica. Apesar das considerações em relação a esses critérios estarem longe de serem unânimes, alguns posicionamentos se mostraram mais proeminentes do que outros no discurso da intelectualidade paulista. Em síntese, nossos românticos provincianos, preocupados com o projeto de autonomização e diferenciação de nossa literatura, mostraram-se propensos a estabelecer como seu ponto de início o século XIX, enquanto na Corte ela vinha datada de períodos anteriores, e a perpetuação do cânone, delineado segundo os moldes da própria crítica que circulava à época, orientou-se em maior medida por aspectos intrínsecos às obras, como a materialização do critério de cor local, embora os fatores extrínsecos não tenham sido totalmente descartados. Quanto à divisão da literatura por períodos, notou-se uma tendência para a delimitação cronológica aliada a acontecimentos de relevo político, a exemplo da Independência da nação. Já em relação à escrita historiográfica, mostrou-se dominante a preferência pelo modelo progressivo de linearidade. |