Resumo |
Os saguis-da-serra-escuro (Callithrix aurita) estão entre os primatas mais ameaçados de extinção devido a perda de habitat e pela invasão dos habitats remanescentes por saguis invasores e híbridos, substituindo as populações puras da espécie. Com o objetivo de frear a hibridização e a deterioração da genética dos Auritas, o Centro de Conservação dos Saguis-da-Serra (CCSS - UFV) iniciou um projeto de esterilização para animais invasores. O estudo em tela teve como finalidade desenvolver um protocolo anestésico que permita sua utilização a campo e proporcione adequada contenção química, analgesia e segurança, além de recuperação anestésica rápida e atraumática, visando a soltura imediata dos animais após o manejo. Seis animais foram submetidos a anestesia para realização de exame físico (ausculta cardíaca e pulmonar, avaliação de dentição, pelo, pele, mamas e escore corporal), coleta de amostras biológicas, implantação de microchip e esterilização. Os animais foram submetidos a jejum alimentar e hídrico de no mínimo 4 horas. Para sedação, utilizou-se dextrocetamina (10 mg/kg) associada ao midazolam (0,5 mg/kg) e ao tramadol (1,5 mg/kg) por via intramuscular. Os parâmetros avaliados foram: frequência cardíaca, frequência respiratória, temperatura, pressão arterial sistólica com auxílio de doppler vascular, glicemia, sedação e relaxamento muscular. Após 10 minutos, realizou-se venóclise na cauda ou membro pélvico, com cateter 26G, a fim de instituir fluidoterapia (solução de Ringer com lactato, 3 a 5 mL/kg/hora) e medicações. Nos animais que apresentaram glicemia inferior a 80 mg/dL, administrou-se bolus de glicose 50% (0,5 mL/kg IV). Para o procedimento cirúrgico, que consistiu em deferentectomia nos machos e laqueadura nas fêmeas, os animais foram induzidos à anestesia geral e mantidos em plano anestésico adequado com sevoflurano (1 a 3% em oxigênio 100%) através de máscara facial de tamanho adequado conectadas a um sistema avalvular de anestesia do tipo Baraka . Antes do início do procedimento cirúrgico, realizou-se antibioticoterapia com cefazolina (20 mg/kg IV) e terapia anti-inflamatória com meloxicam (0,1 mg/kg SC). Ao fim do procedimento, os animais foram mantidos aquecidos e fornecido alimento de alto teor calórico. Os saguis híbridos esterilizados foram mantidos em cativeiro durante o período de 10 dias de pós-operatório, onde foi fornecido, juntamente com a alimentação, dipirona (10 mg/kg) e realizada contenção para avaliação da ferida cirúrgica e algia a cada 72 horas. Observou-se os animais em decúbito lateral cinco minutos após a aplicação da sedação, permitindo a realização do exame físico, coleta de amostras e microchipagem. Em relação ao procedimento cirúrgico, observou-se relaxamento muscular e antinocicepção adequados para sua realização. Conclui-se que o protocolo anestésico utilizado permitiu adequada contenção, avalição dos animais e proporcionou plano cirúrgico satisfatório, podendo ser utilizado com segurança a campo. |