Resumo |
A hérnia perineal representa 38 a 44% das hérnias diagnosticadas em cães e caracteriza-se pela fragilidade dos músculos que formam o diafragma pélvico levando à sua inabilidade de manter os órgãos abdominais e pélvicos em posição anatômica. Esta afecção ocorre principalmente em cães machos, não castrados, com idade superior a 8 anos. Objetiva-se relatar o caso de um paciente canino, macho, SRD, 8 anos, com aumento de volume em região perineal lateral direita com evolução de 4 meses, anorexia e disquezia há 4 dias, mucosas hipocoradas, escore corporal 3/9, hipertermia e algia abdominal. O fluxo urinário não estava patente por meio de cateterização uretral e a punção do aumento de volume perineal evidenciou urina de coloração enegrecida. Em ultrassonografia, evidenciou-se uretra dilatada com 0,66cm de diâmetro, hidronefrose e hidroureter bilateral, com dilatação de pelve bilateral de 7,75cm do rim direito e 5,36cm do rim esquerdo e hérnia perineal contendo bexiga com conteúdo hipoecogênico de elevada celularidade e acentuado líquido livre adjacente. O paciente foi posicionado em decúbito esternal e submetido à correção de hérnia perineal. Após incisão de pele, subcutâneo e saco herniário, identificou-se bexiga desvitalizada com coloração enegrecida e encarcerada pelo anel herniário, sendo necessária celiotomia mediana. O decúbito foi alterado para lateral esquerdo, possibilitando acesso simultâneo à hérnia perineal e à cavidade abdominal. Durante celiotomia, foi possível visualizar torção vesical de 360° no próprio eixo, rins e ureteres excessivamente dilatados. A torção não foi desfeita e realizou-se ligadura entre bexiga e próstata. As inserções dos ureteres na bexiga foram pinçadas com Satinsky e incisadas. Duas incisões foram realizadas em musculatura reto abdominal direita e pele, possibilitando comunicação entre cavidade abdominal e pele. Realizou-se ureterostomia com nylon 5-0 e 6-0 em padrão simples interrompido formando dois óstios. Em seguida, realizou-se cistectomia, lavagem da cavidade abdominal, miorrafia, redução do subcutâneo e dermorrafia. Simultaneamente, foi realizada orquiectomia e herniorrafia, onde procedeu-se miorrafia para reconstrução do diafragma pélvico, redução do subcutâneo e dermorrafia. Apesar da gravidade do quadro, a intervenção cirúrgica e o período de internação em terapia intensiva, permitiram recuperação do quadro clínico do paciente. Conclui-se que a retroflexão da vesícula urinária em pacientes com hérnia perineal, corresponde à emergência cirúrgica, evitando-se torção e/ou encarceramento vesical e consequente necrose do órgão, impossibilitando sua manutenção. A anastomose dos ureteres na pele é uma cirurgia de salvamento e está associada a complicações como infecção urinária ascendente e assaduras. Recomenda-se que em pacientes machos, um novo procedimento para realização de ureterostomia modificada seja realizado com intuído de criar anastomose entre ureteres e prepúcio, evitando tais complicações. |