Resumo |
Shunt portossistêmico (SPS) é a principal anomalia vascular hepática de cães, que consiste em uma anormalidade de fluxo sanguíneo da veia porta ou uma de suas tributárias formando uma anastomose com a veia cava caudal, que transfere para a circulação sistêmica parte do sangue que seria destinado ao fígado. Como consequência, permite que toxinas e metabólicos que deveriam ter sido previamente metabolizados pelo fígado, entrem na circulação sistêmica, levando a atrofia, redução da função e insuficiência hepática e, cada vez mais, acúmulo de substâncias tóxicas no organismo. Os sinais clínicos consistem em manifestações neurológicas, pelo desenvolvimento da encefalopatia hepática. O tratamento para essa afecção consiste em obliterar o fluxo sanguíneo deste vaso anômalo por meio banda de celofane, espirais intravasculares trombogênicas, oclusor hidráulico de silicone e anel constritor ameróide (ACA). O ACA apresenta material higroscópio em sua composição, fazendo com que o vaso desenvolva uma fibrose gradativa para não gerar uma hipertensão portal e desenvolvimento de shunts adquiridos. Objetiva-se relatar o caso de um canino macho, 9 meses, raça Yorkshire, submetido ao procedimento de colocação do ACA no vaso anômalo esplenofrênico. O paciente apresentava hiporexia, escore corporal diminuido (3/9), crises epilépticas, tremores de intenção e head pressing, sinais iniciados há 2 meses. Foi realizado hemograma, bioquímico, urinálise, ultrassonografia abdominal e tomografia computadorizada, destacando-se uma anemia microcítica normocrômica, hipoproteinemia por hipoalbuminemia, aumento de fosfatase alcalina e dos ácidos biliares pós prandiais, urina isostenúrica, microhepatia e a presença de um vaso anômalo dilatado e sinuoso de 4mm com origem na veia esplênica, inserindo na veia cava intra-hepática. Foi confirmado o SPS extra-hepático esplenofrênico por meio de tomografia computadorizada. Foi iniciado o tratamento clínico temporário com metronidazol, lactulona e ração hepática, para estabilizar o paciente e posteriormente realizar o tratamento definitivo. O procedimento cirúrgico consistiu em uma celiotomia mediana pré-umbilical e identificação do vaso anômalo caudolateral a veia porta. Em seguida, o vaso foi divulsionado para introduzir o ACA de 5mm ao seu redor. Foi realizado a miorrafia com Poliglactina 910 3-0 no padrão sultan, seguida de sutura intradérmica com Poliglecaprone 3-0 em zigue-zague, e dermorrafia com Nylon 4-0 em padrão simples separado. O paciente apesentou excelente recuperação clínica e cirúrgica, não apresentando alterações neurológicas após o procedimento. Foi indicada manutenção da ração hepática por 30 dias, e após este período troca gradual para a ração comum. Os exames hematológicos e o ultrassom abdominal não apresentaram alterações. Com isto, foi possível concluir que o procedimento de obstrução do fluxo sanguíneo por meio da utilização doACA, foi eficaz, eliminando assim as alterações da encefalopatia hepática. |