Resumo |
A Medicina de Família e Comunidade tem se destacado no cenário mundial na última década por meio da ampliação da atuação de médicos especializados na Atenção Primária à Saúde (APS) e na melhoria da assistência às populações carentes e periféricas. Por meio de uma integração entre equipe, comunidade e territorialização, associada ao Programa de Residência em Medicina de Família e Comunidade oferecido pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, algumas clínicas representam um local não só do cultivo de atividades da APS, mas de formação para residentes da área. Esse trabalho objetiva a discussão de aspectos biopsicossociais envolvidos na aplicação do cuidado médico e no processo de adoecimento em uma comunidade periférica. O relato relaciona-se à vivência de uma acadêmica do 10º período do curso de Medicina da Universidade Federal de Viçosa na Clínica da Família Zilda Arns, localizada no Complexo do Alemão - Rio de Janeiro, durante seu estágio do internato em Saúde da Família. A Clínica possui 14 equipes de Saúde da Família, cerca de 42 médicos e 23 enfermeiros, além de aproximadamente 50 mil pessoas cadastradas, das 100 mil habitantes no Complexo. Isso estimulou ponderações sobre o contraste existente entre a APS no meio rural e em uma comunidade periférica de uma cidade global, no que tange o funcionamento das redes de saúde, as técnicas de acolhimento e acesso avançado, a relevante atuação multiprofissional, o intenso fluxo de pessoas e o perfil da população de baixa renda. As atividades realizadas incluíram visitas domiciliares, consultas médicas e participação em sessões clínicas do programa de residência, do período de 04 de abril a 10 de junho de 2022. As experiências vivenciadas durante o estágio foram o ponto de partida para a observação e reflexão das complexidades e particularidades da comunidade assistida. Além disso, buscou-se salientar as formas de atuação do Sistema Único de Saúde na comunidade e o relato de situações ocorridas durante o estágio que ilustram a vivência na equipe Teleférico. Os determinantes sociais de uma comunidade periférica no Rio de Janeiro possuem influência sob a forma de organização da comunidade e o processo de saúde-doença dos indivíduos. Dentre eles estão a renda, o desenvolvimento urbano e moradia, a relação com a violência e com as formas de poder atuantes no território, com o SUS, e com as doenças mais prevalentes. A partir da realização do estágio pela interna foi possível conhecer mais sobre a dinâmica territorial e sobre tais determinantes de saúde. Assim, foi possível refletir sobre a importância da vivência em sistemas de saúde em comunidades marginalizadas para o aprimoramento do conhecimento teórico-prático e empático de futuros médicos generalistas. Uma formação médica que desvela a realidade socioeconômica e sociocultural do país promove uma melhor atuação do profissional médico, principalmente no cuidado de populações historicamente desassistidas e marginalizadas. |