Resumo |
Dentre as afecções que afetam a micção nos cães, a estenose uretral está entre as que ocorrem com maior frequência, sendo constantemente relacionada a traumas associados às fraturas pélvicas, podendo evoluir para hidronefrose e hidroureter devido a repleção vesical contínua. Objetiva-se relatar a realização de técnica modificada de uretrostomia pré-púbica em um cão, SRD, 2 anos, 7,8 kg, com histórico de trauma por atropelamento há 2 semanas, queixa de estranguria há 1 semana e constante gotejamento urinário. Ao exame ultrassonográfico visualizou-se bexiga com acentuada repleção com conteúdo anecogênico heterogêneo, paredes espessas (cistite), uretra pélvica medindo 0,88cm de diâmetro, preenchida por conteúdo anecogênico heterogêneo (dilatação uretral) e pelve renal esquerda associada a discreta dilatação dos recessos pélvicos (pielectasia/hidronefrose incipiente). Ao exame radiográfico simples e contrastado (uretrocistografia retrógrada positiva), observou-se processo inflamatório obstrutivo em porção caudal de uretra prostática e porção cranial de uretra pélvica, resultando em estenose uretral, fratura completa junto à epífise caudal de S3, associado à perda da relação articular dos processos articulares de S3 com as vertebras coccígeas, fratura do ramo cranial do púbis esquerdo e fratura completa do corpo do ísquio direito com desvio do eixo ósseo anatômico. O paciente foi encaminhado para procedimento cirúrgico no qual procedeu-se a orquiectomia, seguida de celiotomia retroumbilical. A bexiga foi exteriorizada e isolada, realizando cistocentese com cateter acoplado ao sugador para esvaziamento vesical. A incisão da bexiga possibilitou cateterização uretral retrógada até o ponto de estenose. Observou-se estenose em uretra pélvica proximal, imediatamente caudal à próstata. Procedeu-se a remoção da porção estenosada da uretra e ligadura na região caudal da estenose. Realizou-se incisão em mucosa prepucial e musculatura reto abdominal esquerda, criando-se uma passagem do interior do abdômen para o subcutâneo e prepúcio, para realização de anastomose entre o remanescente de uretra pélvica proximal em mucosa prepucial. Realizou-se quatro pontos cardiais de apoio com poliglecaprone 4-0 conectando-se uretra pélvica proximal e mucosa prepucial e posteriormente, demais pontos intercardiais em padrão simples separado com poliglecaprone 5-0. Procedeu-se sondagem uretral normógrada pelo interior do prepúcio, cistorrafia e posterior laparorrafia. O paciente foi encaminhado para internação, permanecendo sondado durante 3 dias de pós-operatório. Observou-se melhora clínica do quadro, normouria e micção através do prepúcio. Conclui-se que houve satisfatória resposta clínica frente ao uso dessa técnica modificada de uretrostomia pré-púbica prepucial para o tratamento de estenose de uretra pélvica, possibilitando redução de complicações inerentes ao procedimento, como traumatismos, assaduras e infecção ascendente, quando a anastomose é realizada na pele. |