Resumo |
A lagarta do cartucho, Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) é uma espécie que tem adquirido uma grande importância por suas populações expandirem a ocorrência geográfica das Américas para África e Ásia e por muitas delas terem desenvolvido resistência a cultivares que expressam toxinas de Bacillus thuringiensis (Bt). A adoção em larga escala de cultivares Bt para o controle S. frugiperda exerce uma alta pressão de seleção que pode ocasionar o desenvolvimento de resistência no campo, o que foi o tema em pesquisa neste trabalho. Larvas de S. frugiperda de instares tardios foram coletadas em cultivos de milho expressando uma (Cry1F) ou simultaneamente duas toxinas (Cry1A.105 + Cry2Ab) para se determinar o nível de resistência dos indivíduos tais toxinas e estudar se o perfil da resistência mudou em relação àquele descrito anteriormente em 2013 e 2016. A resposta das progênies F1 resultantes do cruzamento dos insetos das populações do campo com insetos suscetíveis de laboratório também foi determinada para estimar a dominância da resistência. Posteriormente, as populações de campo foram mantidas durante 16 meses fora da exposição à pressão de seleção com toxina Bt para testar a instabilidade da resistência, como observado nos casos anteriores. As populações de campo apresentaram resistência completa aos milhos Cry1Fa e Cry1A.105 + Cry2Ab. Somente o milho piramidado afetou negativamente os parâmetros biológicos dos insetos na fase imatura, porém sem diferenças nos valores da taxa intrínseca de crescimento populacional em relação aos insetos criados no milho não-Bt. Esse semelhante desempenho dos insetos resistentes na folhagem do milho Bt vs. não-Bt indica que a resistência ao milho de duas toxinas é completa. Na escala de 0 (completamente recessiva) a 1 (completamente dominante), o valor da dominância funcional da resistência foi 0,44 e 0,96 no milho de única toxina e completamente recessiva (0,04 e 0,05) no híbrido piramidado. O grau de resistência (diferencial de desempenho demográfico dos insetos resistentes na folhagem de milho Bt em relação ao milho não-Bt) manteve-se ao longo das gerações em que os indivíduos foram mantidos fora da exposição a Bt. Esses resultados são consistentes com o desenvolvimento de resistência ao milho piramidado no campo, a qual parece ser recessiva e estável por mais de 12 gerações na ausência de pressão de seleção. Esse perfil de resistência a Cry1A.105 + Cry2Ab aqui caracterizado parece diferir daquele documentado anteriormente em S. frugiperda, aqui sendo a resistência completa e estável, condições desfavoráveis ao manejo da resistência. |