Resumo |
A semelhança genética e fisiológica do gênero Callithrix, propicia o contágio de doenças infecciosas entre os indivíduos. Algumas das doenças que ocorrem em primatas-não-humanos também são acometidas pelos seres humanos. Logo, o estudo acerca de doenças em saguis híbridos de vida livre (Callithrix sp.) é essencial para determinar o perfil epidemiológico da saúde ambiental, que poderá servir como ferramenta para a conservação de espécies nativas do local do estudo, como o Callithrix aurita e C. flaviceps e adoção de profilaxias acerca das possíveis zoonoses, impactando na saúde pública. Diante disso, objetivou-se determinar o perfil sanitário de saguis híbridos provenientes de fragmentos de mata do município de Viçosa - MG e região. A execução deste trabalho ocorreu junto do projeto “Manejo experimental de saguis invasores: da esterilização dos animais à valoração humana” realizado pelo Centro de Conservação dos Saguis-da-Serra da UFV. Foi realizada a coleta de dados, avaliação clínica, biometria e coletas de amostras biológicas de 15 saguis híbridos de vida livre, capturados para esterilização e posterior soltura. Os procedimentos para obtenção de amostras biológicas por meios invasivos são realizados por médicos veterinários, conforme os protocolos, promovendo o mínimo de estresse aos animais. Foram coletados materiais biológicos de 15 animais, amostras de sangue, fezes e swab retal. Nos exames hematológicos, a média do valor do hematócrito foi de 35%. A média do valor dos leucócitos foi 6.980/ul, sendo que apenas duas amostras estavam abaixo do valor de referência para saguis (1.900/ul e 2.600/ul). Nesses indivíduos foi identificado neutropenia, achado que também foi identificado em outras três amostras. A leucocitose não foi identificada em nenhum animal, contudo, dois indivíduos apresentaram eosinofilia (1% e 3%). Em um dos indivíduos, foi encontrado o hemoparasita Trypanossoma sp. por meio do esfregaço sanguíneo e leitura da lâmina. Esse mesmo animal apresentou trombocitopenia relevante (45.000,00/ul). Ademais, foram realizados exames coproparasitológicos, cultura e antibiograma de fezes para detecção de agentes causadores de doenças. A prevalência de agentes patológicos encontrados nos exames de cultura de fezes foi de 6,6% (n=1) para Citrobacter freundii e 6,6% (n=1) para Klebsiella pneumoniae, nos exames coproparasitológicos 13,3% (n=2) para Platynosomum sp., 13,3% (n=2) para Primasubulura jacchi e 13,3% (n=2) para Prosthenorchis sp., sendo que 53,3% (n=8) dos saguis amostrados estavam infectados por, pelo menos, uma espécie de agente. Consoante às análises, foi denotado potencial zoonótico, com agentes que podem infectar e desencadear doenças em humanos como a Doença de Chagas e a Platinosomose. Portanto, conclui-se que as análises do perfil sanitário dos saguis híbridos fornecem um prognóstico da saúde ambiental, que auxiliará no manejo de populações (humanas e animais) a tempo de ser aplicado em ações preventivas locais. |